Em 1945, enquanto a guerra se espalhava por todo o mundo, aconteceram eventos dramáticos nas selvas remotas de Bornéu. Participaram desses eventos um grupo de aviadores americanos, a tribo dos Dayaks e Major Tom Harrison, um dos oficiais mais excêntricos do exército britânico, que decidiram reviver o antigo costume de cortar cabeças em sua campanha contra os japoneses.
Bornéu é uma grande ilha localizada na Ásia, na região das grandes Ilhas da Sonda. A ilha é dividida em três partes. A maior parte pertence à Indonésia. A segunda maior pertence à Malásia e a menor parte pertence ao Brunei. Os indonésios chamam a ilha de Kalimantan.
Com os headhunters, o antropólogo maluco e os jovens aviadores, houve uma das verdadeiras histórias da Segunda Guerra Mundial que normalmente não aparecem nos livros e nas telas do cinema.
O acidente
Em 16 de novembro de 1944, um avião norte-americano foi atingido pela artilharia japonesa enquanto sobrevoava a densa selva da ilha de Bornéu.
Bornéu era a ilha dos Dayaks, local de centenas tribos desconhecidas com fama de serem sanguinárias que souberam defender-se muito bem sua selva.
Nem mesmo as piores guerras puderam subjugar seus direitos à selva que os viu nascer. Os japoneses os isolaram, mas nunca foram subjugados.
"Eles voaram muito baixo e explodiram. Tudo o que podíamos ouvir era o barulho, e então vimos a fumaça e os pára-quedas" — Ganang Laban, tribo Lun Dayeh.
Os soldados se dispersaram quando caíram, mas dois deles ficaram juntos. O encontro com os nativos que cortavam cabeças (Dayaks Headhunters) ocorreu na beira do rio, em uma pausa depois de longa caminhada pela selva.
"Nós estávamos sentados em uma ladeira de areia e nós dois pensamos que algo iria acontecer, nós sentimos isso. E foi aí que os Dayaks nos encontraram, eles estavam relutantes em se deixarem serem vistos. Eles estavam do outro lado do rio e foram muito cautelosos quanto a se aproximar de nós.
O encontro com os Dayaks
E então, um dos Dayaks reuniu coragem suficiente e cruzou o rio em nossa direção.
"Quando ele subiu para a praia, ele viu o coldre da arma e, de repente, ele começou a gritar USA! USA!" — Dan Illerich.
Os soldados ficaram surpresos com o fato de os selvagens pudessem conhecer seu país.
É que nos anos 30, alguns missionários protestantes americanos tinham tido muito sucesso entre os Dayaks, até que a invasão japonesa acabou por decapitar aqueles "protetores espirituais".
Uma vez na aldeia, os nativos deram uma de suas melhores cabanas para os soldados americanos. Um cubículo de chão aconchegante formado por longas tábuas de madeira, paredes de bambu e telhado cônico de folha de palmeira, construção típica da aldeia Dayak.
Poucos dias depois, os cinco soldados restantes foram resgatados e conduzidos pelos Dayaks.
Quando os japoneses perceberam que os aviadores americanos haviam caído na selva, organizaram-se para dominar a área.
Os Dayaks buscavam um refúgio melhor no interior da selva para seus "convidados", longe da evangelização (os nativos evangelizados não conseguiam mentir para os japoneses) e fora do alcance dos japoneses.
Uma patrulha japonesa entrou nas aldeias Dayaks com hostilidade, incitando velhos ódios e ressentimentos enquanto tentavam localizar os soldados americanos.
"Eles passaram a primeira noite em uma cabana e no segundo nós os movemos rio acima, para um pequeno córrego em uma rota onde ninguém passaria. Houve caos na aldeia. Japoneses iam e vinham. Pessoas de outras aldeias vieram procurar os americanos. Eu disse a eles que eles haviam partido e que não sabíamos onde." — Malai Ruguk, tribo Lun Dayeh
Os dayaks mantinham um profundo ressentimento com os japoneses. Além de decapitar seus missionários, os japoneses confiscaram comida e propriedade, mataram o gado e, o pior de tudo, maltrataram suas mulheres.
"Eles sempre incomodavam as garotas, eles as perseguiam. É por isso que estávamos tão zangados com eles. Houve uma reunião na aldeia onde foi decidido matar os japoneses. Eles disseram "se não os matarmos, então seremos as vítimas". Eles vão executar todos nós!"
Foi então que os nativos decidiram acabar com os soldados japoneses, resgatando seus ritos antigos e sangrentos e perpetrando uma emboscada noturna para aumentar o espólio de suas cabeças decepadas.
A partir desse momento, a guerra sangrenta entre os dois feudos centenários foi declarada. Os dayaks usavam suas mulheres nuas no rio como isca para atrair a atenção e capturar japoneses e depois derrubá-los com suas zarabatanas para então cortar suas cabeças. Todos os soldados japoneses que entraram em sua área foram mortos e decapitados.
"Trouxemos as cabeças e as distribuímos pelas aldeias. Depois que cortamos as cabeças, as aldeias ficaram muito calmas."
A caça de cabeças (Headhunting) foi algo intrínseco à sua cultura durante centenas de anos, mas foi declarada ilegal pelos missionários e eles não a praticaram por uma década.
"As pessoas que não se converteram ao cristianismo notaram um grande vazio em sua religião. Era como fazer uma missa sem pão e vinho. Eles tiveram que dispensar o rito central. Faltava-lhes emoção, coragem e sangue que fazia parte do headhunting" — Judith Heimann, autor de" Os aviadores e os Headhunters"
"Houve um som insistente de gongos com muito ritmo. Ficamos felizes por não ser as nossas cabeças que estavam queimando lá, é o modo de vida deles. Eu era um convidado na casa deles, e eu nunca criticaria o que eles estavam fazendo." — Dan Illerich.
"Os americanos ficaram muito felizes quando matamos os japoneses, porque então eles sabiam que estavam seguros" — Malai Ruguk, tribo Lun Dayeh.
O resgate dos soldados
Enquanto isso acontecia em Bornéo, do outro lado do mundo, um plano estava sendo executado para resgatar os aviadores "sofredores".
Um conhecido e controverso antropólogo britânico, que também era ornitólogo, explorador, observador, jornalista, soldado, etnólogo, escritor, cineasta e guerrilheiro, Tom Harrisson, especialista na área e na cultura Dayak, saltaria de para-quedas para tentar resgatar os soldados.
Cinco meses depois de o avião ser abatido, Tom Harrisson e sua equipe pularam sobre uma clareira na floresta perto de onde acreditava-se que os Dayak e Kelabis estivessem.
O plano era entreter as tribos locais com remédios e presentes para "comprar" sua vontade e ajudar a localizar seus protegidos e resgatá-los.
Mas o antropólogo tinha outros planos: recrutar nativos como guerrilheiros para acabar com os japoneses na ilha usando seu costume de cortar a cabeça dos inimigos, o headhunting. Para isso, ele oferecia cinco florins por cada cabeça cortada e a zarabatana, a arma mais eficaz na selva.
"Os japoneses nunca poderiam enfrentar as zarabatanas, e a mera suspeita de que havia homens em volta deles com elas nas mãos os incomodavam mais que uma dúzia de metralhadoras. Eu não sei se estávamos quebrando alguma regra de guerra, francamente não nos importamos." — Tom Harrisson, antropólogo.
A ideia maluca de tirar os soldados da ilha - já muito fracos e doentes - era construir uma pista de pouso em alguma clareira, para que um pequeno avião de Gloster os evacuasse, um por um, até a costa; onde as tropas britânicas já exerciam sua autoridade.
A lama da floresta tornava impossível levar qualquer máquina para fazer a pista, mas os anciões da tribo propuseram construir um "tapete" de bambu.
Dito e feito, a única pista de bambu do mundo foi construída com a ajuda de 1.000 Dayaks, decorada com as bandeiras aliadas e uma cabeça de um japonês executado no topo de um dos mastros.
Em 29 de junho de 1945, Dan Illerich, o último soldado restante foi evacuado por avião de Bornéu.
"Saltamos de paraquedas na comunidade deles em 1944 e tiveram a coragem de nos aceitar, proteger e impedir nossa captura. Esses caras sabiam que estavam em grande risco quando começaram as operações contra os japoneses. Para mim são heróis, eu não estaria falando com você se não fosse eles." — Dan Illerich.
Poucos dias depois, dois grandes cogumelos caíram sobre Nagasaki e Hirosima, eclipsando a história da ilha de Bornéu e mostrando que o mais selvagem não estão nas selvas.
Os Dayaks nas cédulas
Conforme já dito no início do artigo, a ilha de Bornéo, lar dos Dayaks, atualmente é dividida em três partes, sendo a maior parte (a parte meridional) pertence à Indonésia, a segunda maior (a parte setentrional) pertence à Malásia e a menor parte (encravada na parte da Malásia) pertence ao Brunei.
Mas a região era uma colônia holandesa chamada de Índias Orientais Holandesas que ficou sob a administração do Governo Holandês a partir de 1800 por meio da nacionalização da Companhia Holandesa das Índias Orientais.
Essa colonização, que teve início em 1800, terminou em 8 de março de 1949 com a criação do estado da Indonésia. Só para uma noção do tamanho da colônica, estima-se que em 1930 havia uma população de 60.727.233 pessoas vivendo na região sob o domínio holandês.
Cédulas antigas
Foi durante essa colonização que o De Javasche Bank emitiu uma bela cédula de 5 Gulden nos anos de 1934 a 1939, impressa pela Royal Joh. Enschedé da Holanda, que homenageava o povo da região, vamos conhecer:
Anverso da cédula
No anverso a cédula, impressa com tons castanho claro e verde pálido, apresenta um dançarino javanês olhando para a direita, o valor 5 em algarismos grandes e pequenos em sequência no pano de fundo, os códigos de série, chancelas e o nome do banco sobre uma roseta simétrica.
O traje do dançarino estampado na cédula é usado até hoje nas danças das culturas da região:
As danças balinesas são provenientes de uma série de danças tradicionais muito antigas, parte da expressão artística e religiosa entre as ilhas de Bali de Bali, Indonésia Borneo.
O jovem é iniciado muito cedo e a dança mais representativa é a a dança da guerra ao som de gongos.
Reverso da cédula
No reverso da cédula, em várias cores, apresenta um texto da lei que regulava a circulação das espécies monetárias e as sanções para quem ousasse falsificar a cédula, tudo em 4 línguas diferentes: holandês, javanês, chinês e árabe.
Cédulas atuais
A moeda da Indonésia é a Rupia e são emitidas cédulas com valor facial de 1.000, 2.000, 5.000, 10.000, 20.000, 50.000 e 100.000, além de moedas.
Uma das cédulas, a de 2.000 rúpias, homenageia o grupo étnico Dayak, conforme mostramos abaixo:
Anverso da cédula
No anverso da cédula de 2.000 rupias pode-se ver uma foto do príncipe Antasari (1862), um dos líderes do grupo étnico Banjar na ilha de Kalimantan (Bornéu). Ele foi influente na resistência contra o colonialismo holandês no sul de Kalimantan.
Reverso da cédula
No reverso da cédula de 2000 rúpias da indonésia, podem ser vistos dançarinos dos grupos étnicos Dayak, também da ilha de Kalimantan.
A vida atual dos Dayaks
Atualmente, os Dayaks não cortam mais cabeças, é a arte que faz parte da vida deles, manifestada na forma de dança, gravuras, escultura, tecelagem.
Suas esculturas e estátuas esculpidas representam fisicamente seus deuses e mostram como sua cultura é influenciada por suas crenças.
As danças geralmente são realizadas em cerimônias rituais para receber seus heróis ou visitas importantes. Há uma série de danças no Kalimatan Central, tais como:
Tari Mandau (Dança Mandau)
Esta dança é realizada quando recebem visitas importantes em uma cerimônia, mas também é realizada para amizade ou para receber heróis após vencer uma guerra. É dançada por velhos e jovens, homens ou mulheres.
Tari Mandau Kinyah (Dança Mandau Kinyah)
Esta dança é particularmente realizada para os heróis que estão vindo da guerra.
Tari Giring-Giring (Dança Giring-giring)
Esta é dançada por homens e mulheres em casais. Cada bailarino segura uma ou duas varas de bambu (em certa distância), um dos bambu é preenchido com pequenos pedaços de pedras que produz um som quando é sacodido e esse som é acompanhado pela música tradicional como Kangkanong (gamelan) e tambor. A dança giring-giring é realizada para celebrar ocasiões especiais e para receber visitantes.
Talvez seja essa a dança que foi performada pelos Dayaks quando mataram os japoneses e foi vista pelos soldados da história do início desse artigo.
Tari Mangetam (Dança da Colheita)
Esta dança é realizada na colheita e isso simboliza a expressão de agradecimento a deus / deuses da esmagadora.
Tari Gelang Bawo (Dança Gelang Bawo)
Dança Gelang Bawo vem de Dayak Maanyan que é o nome Tewang Rawayab que vive no planalto da área de Dayak Bawo.
A história dessa dança é a seguinte:
Era uma vez, um chefe de Bawo chamado Dataktoo, tinha um filho chamado Lala que gostava de caçar. Ele sempre rezava porque era bem sucedido na caça. Então, por causa disso, ele dançava para mostrar suas capacidades e habilidades.
Tari Gelang Dadas (Dança Gelang Dadas)
Esta dança geralmente executada por mulheres. A história desta dança é:
Um certo dia, uma mulher ascendeu e conheceu uma cobra e um jaguar. Ambos os animais deram-lhe algumas instruções para obter poder sobrenatural. Quando retornou da ascensão, ela era capaz de dançar e seu corpo se movia com o movimento de uma cobra e ela também podia voar como águia no céu.
Além de toda a dança que foram mencionadas acima ainda há outras belas danças Dayak de Bukas: como, Balau Ngajan, Kanjan Halu, Kerangkang e danças Dandang Tinggang.