A cunhagem das primeiras moedas da república ganhou destaque na primeira página da edição 1.941 do jornal "O PAIZ", circulada em 30 de janeiro de 1890.
Na ocasião, aquele que ostentava ser a folha de maior circulação na américa do Sul, há trazia detalhes da cerimônia do início da cunhagem das moedas republicanas.
Para contextualização temporal, a cerimônia aconteceu há apenas 75 dias depois da proclamação e há 47 dias após a publicação do Decreto nº 54B, de 13 de dezembro de 1889 que aprovou os desenhos e autorizou a cunhagem de moedas de ouro, prata, níquel e bronze do novo tipo.
Além disso, o artigo detalha informações interessantes sobre o parque fabril da casa da moeda à época, que contava com 6 máquinas de cunhagem, que cada máquina cunhava 1 moeda por segundo, sendo possível cunhar 216.000 em um dia de trabalho de 10 horas do parque fabril.
Nessa velocidade de cunhagem, podemos calcular que para cunhar as 73.494 moedas de 20.000 réis emitidas com era de 1889, seriam necessárias somente 20 horas e 24 minutos de trabalho de uma única máquina.
Mas, vamos deixar esses detalhes técnicos e ler o relato da cerimônia de início da cunhagem. Ao final do artigo você pode fazer o download da página inteira e do recorte do jornal.
Casa da moeda
Realizou-se ontem, conforme fora mencionado, o início da cunhagem das moedas da República, missão que coube ao ilustre engenheiro Dr. Ennes de Souza, diretor da Casa da Moeda.
A cerimônia começou às 11 horas da manhã, achando-se presentes o Sr. generalíssimo Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório, os cidadãos ministros da fazenda, do interior e da marinha, e grande número de cavalheiros e senhoras da alta sociedade fluminense, pois, embora não houvessem sido feitos convites, as portas do estabelecimento foram franqueadas ao público.
O grande salão em em que está a oficina de cunhagem achava-se decorado ligeira mas agradavelmente, tendo as máquinas de cunhar os seguintes dísticos: Homenagem ao chefe do governo. À imprensa; Aos operários; Ao Dr. Ennes de Souza; Ao ministro republicano; Aos empregados da moedas.
Ao lado das máquinas tocava uma banda de música.
Funcionaram elas ao mesmo tempo ao impulso de poderosa máquina, que pelo imperceptível barulho que faz, bem merece o qualificativo de silenciosa.
As máquinas cunham uma moeda por segundo, sendo o seu movimento perfeitamente equivalente ao de um relógio.
Ora, cada máquina, por conseguinte, cunha sessenta moedas por minuto, ou 3.600 por hora, ou 36.000 em dez horas de trabalho; sendo seis o número de máquinas, temos que a casa da moeda pode cunhar diariamente 216.000 moedas.
Vê-se por esses dados, apanhados rapidamente na visita de ontem feita, a vantagem de um estabelecimento nas condições da casa da moeda, sempre melhorado pela atividade de seu diretor.
As moedas cunhadas foram de ouro, do valor de 20$ (20.000 réis); de prata de 1$ (1.000 réis) e de 500 rs. (500 réis); de níquel, de 200 rs. (200 réis); de cobre, de 40 rs. (40 réis).
As primeiras foram entregues ao ilustre chefe do governo.
Concluída a cerimônia, fez-se a visita das importantes oficinas do estabelecimento, havendo tem todas empregados encarregados de ministrar informações aos visitantes.
No laboratório químico, o mais importante do Rio de Janeiro disse-nos o Dr. Ennes de Souza, o público observou os aparelhos destinados à argenteação e douração, que funcionavam no momento.
Em toda as salas, como dissemos, havia empregados e chefes e oficiais de gravura do estabelecimento, que punham o visitante a par do que dizia respeito a seção.
No pavimento superior, foram impressos selos de vários valores e cores em presença do Sr. ministro da fazenda, que se mostrou verdadeiramente satisfeito com o que observou.
Os nomes das máquinas de cunhagem
Poucos anos depois, no dia 15 de novembro de 1892, data do 3º aniversário da proclamação da república, o mesmo jornal O PAIZ publicou uma pequena nota na sua página inicial de que fora inaugurada na Casa da Moeda uma nova máquina de cunhagem.
Nesta mesma nota, há menção ao nome dado a nova máquina de cunhagem, bem como aos nomes das demais máquinas preexistentes. Veja a transcrição na linguagem de hoje:
Na casa da moeda foi inaugurada mais uma máquina de cunhagem a que o Dr. Ennes deu o nome de Marechal Deodoro.
Ficam assim em exercício sete máquinas, que também agora receberam as seguintes designações: Azeredo Coutinho, Souza Franco, Theodoro de Oliveira, Benjamin Constant, República e 15 de Novembro.
Clique aqui para fazer download da página completa.
Fontes:
— Jornal "O PAIZ", edição 1.941 de 30 de janeiro de 1890.
— Foto da capa: Casa da Moeda a partir do Campo de Santana, foto de Marc Ferrez, circa de 1885, coleção Gilberto Ferrez sob custódia do Instituto MOreira salles.