Porque colecionar moedas? Por que você coleciona moedas? Pra quê se as moedas antigas não podem comprar mais nada? O que é que pode ter de tão interessante assim num pedacinho de ferro? Vale alguma coisa isso aí?
Para todas estas perguntas e muitas mais, existem boas e plausíveis respostas.
Aqueles que entre nós, além de colecionarem, estudam as moedas, sabem de muitas respostas - tantas que até seriam demais para serem apresentadas em um pequeno artigo.
Conhecemos os motivos que levaram a cunhagem e emissão das moedas, conhecemos o país de onde elas vêm, conhecemos o metal sobre o qual elas foram cunhadas, conhecemos os porquês dos diferentes tamanhos, cores, pesos, e espessuras.
Aprendemos, com o tempo, as técnicas de fabricação e com isso temos a noção de que o tempo passou e o homem evolui tecnologicamente.
As horas investidas na classificação fazem-nos lembrar das histórias que podem ser lidas nas imagens gravadas naquele pequeno pedaço de metal; a época em que foi feito, o local, a arte do gravador - pequena e perfeita; a história da humanidade, o passado, o presente e o utópico futuro.
Aprendemos sobre países que surgiram e não mais existem. A história dos povos, as histórias de amor e de ódio, de viagens, de aventuras, de descobrimentos. Histórias de paz e de guerra, de nascimentos e de mortes e, se tivermos tempo suficiente, poderemos ler nas entrelinhas de uma moedinha, a história completa do mundo, desde a criação do homem.
O almoço na mesa, a conversa rola, a tarde chega, a tarde passa e você, numismata, espera pacientemente.
Só o verdadeiro numismata sabe o que se passa consigo diante de uma situação dessas. A possibilidade de uma moeda rara, de uma variante nova, daquela peça que falta para completar a série.
A ansiedade faz com que a comida embole no estômago até que de repente você ouve:
— Vamos lá?
— Onde?
— Ver as moedas. Sabe, elas são do tempo do bisavô.
Prontamente aquela bola no estômago se dissolve e atiça a imaginação. É agora! Desta vez não vai ser como as tantas outras vezes.
Você e aquele seu parente desaparecem casa adentro, em direção ao quarto. Lá, ele tira do fundo do guarda-roupas uma caixa de madeira grande.
A imaginação flui. De dentro da caixa ele tira uma outra caixa e, de dentro desta segunda caixa um saco plástico. Você só observando.
Dentro do saco plástico, envolto em folhas de jornal velho, está o tesouro do vovô que não lhe é dado nas mãos. Afinal você é conhecedor e, quem sabe uma destas valiosas moedas pode parar no seu bolso, sem que você queira.
Aquele seu parente senta-se na cama e ali mesmo começa a desembrulhar o tesouro.
"Eu já vi este filme antes", você pensa. Aparecem as primeiras peças e as mil esperanças dissolvem-se em meia dúzia de moedas "amarelinhas", alguns níquéis e um Vintém de 1869, todas gastas.
Você, conhecedor das reações das pessoas quando diz que os "ferrinhos" que eles lhe trazem, pouco valem, diz:
— É...
— Como?
— É uma pena que eu já tenha todas, mas você deve guardá-las como recordação do tempo do vovô. Vê, esta aqui tem a figura do Floriano Peixoto, o segundo Presidente do Brasil.
— E vale alguma coisa?
— Valer vale, mas não tanto quanto nós gostaríamos.
— E serve pra tua coleção?
Para um não numismata, estes "ferrinhos" servem apenas para comprar mercadorias e serviços, interessando-lhes apenas o seu poder de compra.
Quem ou o quê está representado pouco importa, desde que tenha um número indicando o seu valor fiduciário.
— O quê?!
— Valor fiduciário.
— O quê que é isso?
— É aquele que não é intrínseco.
— Ah! Sei... Mas quanto custa um quilo de farinha?!
Por que colecionamos moedas? Muito provavelmente as respostas de dois colecionadores às perguntas de um leigo em numismática sejam completamente diferentes.
Alguns colecionam somente para acumular a maior quantidade possível de "ferrinhos" e, de preferência, que rendam alguma coisa na hora da revenda; outros, mais cuidadosos, preferem a qualidade, selecionam as melhores peças e as estudam tanto do ponto de vista morfológico quanto do ponto de vista sintático.
Estes últimos, creio eu, sabem melhor do que ninguém porque colecionamos. Nós sentimos o prazer - quase carnal - de termos completado uma série depois de meses em busca de uma determinada peça.
Nós temos o prazer de estudar as moedas da nossa coleção, de arrumá-las nos seus medalheiros. Temos prazer em manuseá-las, mesmo depois de um dia intenso de trabalho. E é muito prazeroso para nós quando iniciamos outra pessoa na formação de uma coleção.
E, qual não é o prazer de um de nós quando, em visita a algum parente, do interior ou da capital, e este nos diz que tem um saco, um pote, uma caixa, uma gaveta com um monte de moedas antigas.
— É?!
— Onde estão? Posso ver?
— Calma! Vamos almoçar antes. Depois, a gente tem tempo.
Você, para não melindrar os sentimentos daquele que guarda com carinho o "tesouro" que pertenceu ao bisavô, fala em tom de lamento:
— In (felizmente) não.
— E as outras?
— Também não. Sabe, já faz tempo que eu coleciono e tenho todas estas que são mais comuns...
A conversa dura mais um pouco enquanto você vai devolvendo as moedas ao seu ninho de folhas de jornal e colocando-as novamente no saco plástico e na primeira caixinha e na segunda caixa que é devidamente colocada de volta no fundo do guarda-roupas.
Mas por que somos teimosos e colecionamos moedas?
É porque existem tantas razões para isto, que não há tempo e nem espaço suficiente para responder a todas.
De quem partiu a ideia de formar as primeiras coleções e por quê? Há quanto tempo moedas são colecionadas? Há quanto tempo se usa moedas. Como é que a humanidade vivia antes da invenção das moedas? Era possível viver sem dinheiro?
Por quê colecionamos moedas? Pois bem, perguntem à mulher ou ao homem, aos adultos ou aos jovens que se põe em um canto, alheios ao mundo, após um dia de trabalho ou estudo penoso e estafante em busca de meios para a sua subsistência ou visando um futuro melhor.
Achamos nós paz, descanso e consolo? Estaremos nós aptos para um novo dia de trabalho ou estudo? Achamos nós alguma satisfação "numismaticando", ou teríamos aproveitado melhor nosso tempo assistindo um filme no Netflix ou navegando na internet?
Eu sei por que coleciono moedas. É por todo o prazer, conhecimento e amizades que elas me trazem.
E você? Coleciona por quê?
Autorização de publicação
Esse artigo foi retirado do Boletim nº 50 da Sociedade Numismática Brasileira, originalmente publicado pelo amigo numismata Jairo Luiz Corso.
A publicação de artigos dos boletins da SNB no Blog do Collectprime foi autorizada pela SNB, na pessoa do então Presidente Gilberto Tenor no dia 11/08/2018.