A peça da Coroação de D. Pedro I

A Peça da Coroação foi a primeira moeda do Brasil independente, cunhada para a coroação de D. Pedro I, em 1º de dezembro de 1822 e destinadas ao óbulo, que tradicionalmente os reis portugueses davam à Igreja no dia de sua coroação.

História da moeda

Para festejar sua coroação, no ano de 1822, o imperador brasileiro D. Pedro I autorizou a cunhagem da moeda, assinada pelo gravador Zeferino Ferrez e fabricada pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro.

Todavia, o imperador suspendeu a cunhagem, pois detestou o projeto da moeda pelos seguintes motivos:

1. A efígie, com o busto nu e com coroa de louros na cabeça, à moda dos imperadores romanos;
2. A omissão das legendas CONSTITUCIONALIS (constitucional) e do complemento ET PERPETUUS BRASILIAE DEFENSOR (e perpétuo defensor do Brasil), o que poderia pressupor um desejo de poder absolutista.
3. D. Pedro I preferia sua imagem nas moedas com uniforme militar e com o peito com medalhas.

Foram cunhadas 64 peças em ouro, com valor facial de 6.400 réis e por esses erros de projeto, os únicos sessenta e quatro exemplares fabricados foram tirados de circulação.

Atualmente a peça da coroação é considerada a moeda mais rara e mais preciosa da numismática brasileira, com aproximadamente 16 exemplares conhecidos e valendo em torno de 200 mil dólares americanos cada exemplar.

Especificações técnicas

Peça da Coroação: anverso

Efígie do Imperador D. Pedro I, de perfil à esquerda, laureada e de busto nu.

Data do ano (1822) mais a letra R (indica que foi cunhada na Casa da Moeda do Rio de Janeiro).

Inscrição na orla "PETRUS.I.D.G. BRASILIAE.IMPERATOR" (Pedro Primeiro pela Graça de Deus Imperador do Brasil).

Na parte inferior do busto imperial foi colocada em baixo relevo a inscrição Z.Ferrez (gravador e abridor de cunhos da Casa da Moeda do Rio de Janeiro).

Peça da Coroação: reverso

Escudo das armas imperiais brasileiras, com a coroa real portuguesa. Inscrição de forma abreviada "IN HOC SIG(NO) VIN(CES)" (Com este sinal vencerás).

O escudo esta entre dois ramos, o da esquerda de café e o da direita de tabaco. A união dos dois ramos é feito pelo Laço Nacional.

Exemplar Itaú Cultural

Em visita no Itaú Cultural no dia 30/11/2019, tivemos a oportunidade de ver o exemplar número 4, adquirido por Olavo Egydio Setúbal em 1990 da coleção de José Benedito Moura.

Devido a distância e o vidro que separa a peça dos visitantes, fotos de celular não ficam boas. Mas solicitamos à uma visitante, Marília Valdívia, a gentileza de fotografar a peça com sua câmera, a fim de termos uma imagem de maior resolução.

Ficamos gratos pela gentileza, e segue a foto do anverso da peça (reverso fica voltado para o expositor fixo):

Localização das peças da coroação

Atualmente as peças conhecidas estão espalhadas em coleções privadas e públicas espalhadas pelo mundo:

1. Museu de Valores do Banco Central do Brasil (Brasília, Brasil)
   Ex-coleção de Jacob "Jacques" Schulman (1849-1914), adquirida em 1926 em leilão em Amsterdã, Holanda, lote 328;
2. Museu de Valores do Banco Central do Brasil (Brasília, Brasil);
3. Museu do Banco do Brasil (Rio de Janeiro, Brasil);
4. Museu do Banco Itaú (São Paulo, Brasil);
   Ex-coleção de José Benedito Moura (1990), adquirida por USD 275.000;
5. Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro-Brasil);
   Ex-coleção da Biblioteca Nacional;
6. Coleção privada de São Paulo;
   Provavelmente coleção de Abrahão Zarzur;
7. Coleção privada de São Paulo;
   Provavelmente coleção de Abrahão Zarzur;
8. Coleção privada de São Paulo;
   Ex-coleção R. Pagliari, leiloada pela Spink (Nova Iorque-EUA) em 1986, lote 316 para comprador anônimo;
9. Em coleção privada de São Paulo, Brasil;
   Ex-coleção Julius Meili (Zurique, Suíça);
   Ex-coleção do Museu Nacional (Zurique, Suíça);
10. Coleção Dr. Roberto Villela Lemos Monteiro (São Paulo, Brasil);
    Pertencia a coleção de Augusto de Souza Lobo (Rio de Janeiro, Brasil) em 1909;
    Passou a fazer parte da coleção de Guilherme Guinle (1882 - 1960) (Rio de Janeiro, Brasil) em 1947, tornando-se a segunda peça no acervo do numismata;
    Em 1986 passou a ser do acervo RLM do Dr. Roberto Villela Lemos Monteiro (São Paulo-Brasil);
    Vendida em leilão da Heritage Auctions (Nova Iorque-EUA), em 2014 lote 23.072 para um comprador desconhecido;
11. Coleção privada de São Paulo, Brasil;
    Ex-coleção de Raymond Henry Norweb (1895 - 1983);
    Leiloada pela Spink (Nova Iorque, Estados Unidos), lote 1.068, em 1997 para um comprador desconhecido;
12. Coleção privada do Rio de Janeiro-Brasil;
13. Coleção privada da Bahia, Brasil
    Ex-coleção do Banco Econômico (1834-1995);
    Adquirida por Carlos Aguiar da Costa Pinto e ficou como peça de seu espólio para sua viúva Margarida Ballalai de Carvalho Costa Pinto (1895 - 1979) e provavelmente compõe o acervo do Museu Carlos Costa Pinto;
14. Coleção Museu Numismático Português (Lisboa, Portugal);
15. Coleção privada em Lisboa, Portugal;
16. Coleção privada dos Estados Unidos;
    Em 1908 pertencia a coleção Alves de Araújo Ramos (Bahia, Brasil);
    Foi colocada a leilão por Jacob "Jacques" Schulman em 1909 (ou 1910) em Amsterdã, Holanda, mas não foi vendida;
    Em 1916 passou a fazer parte da coleção Harry F. Williams (EUA);
    Passou a fazer parte do acervo de Waldo C. Newcomer (1867 - 1934), (Nova Iorque-EUA) em 1918;
    Foi leiloada em 1935 pela J. C. Morgenthau Company (empresa de leilão de Julius Ceasor Morgenthau) de Nova Iorque, EUA, lote 129, adquirida por John H. Clapp (filatelista descendente de uma rica família petrolífera da Pensilvânia, EUA);
    Em 1945 passou a fazer parte da coleção de Louis Edward Eliasberg (1896 - 1976) (Baltimore, EUA);
    Foi a leilão pela American Numismatic Rarities (ANR)/Spink (Nova Iorque-EUA) em 2005, lote 1.262, mas não foi vendida;
    Em 2012 foi novamente a Leilão pela Heritage Auctions (Nova Iorque-EUA), lote 23.733 e adquirida por um colecionador desconhecido.

Leilões da peça da coroação

Exposições públicas da peça da coroação

Leilão em 2019 - Ex. Santa Cruz

Uma peça da coroação da denominada Coleção Santa Cruz apareceu no leilão da Heritage Auction do dia 13 a 16 de agosto de 2019, conforme pode ser visto nesse link.

O exemplar está certificado pela NGC sob o código 4877472-001, estado de conservação AU (Almost Uncirculated) e comentário "REPAIRED" no slab.

A peça foi vendida por $108,000.00 a um comprador não revelado.

Restauração da peça da Coroação

No dia 10/04/2020, em mensagens trocadas em um grupo de numismatas brasileiros, foi publicada a informação confiável que o comprador da peça da coroação acima encaminhou a moeda para reparação, a fim de remover o risco que pode ser visto no rosto de D. Pedro I.

A foto da peça reparada foi compartilhada e com as imagens fizemos o vídeo abaixo mostrando o antes e depois da reparação:

Dessa forma, a peça foi novamente encapsulada pela NGC tendo seu certificado anterior (4877472-001) deletado e ganhou um novo número de certificado 5744004-001 com o grade "AU Details" com o comentário "REPAIRED, TOOLED".

O que você achou da reparação?

Fontes:
Mapeamento das peças conhecidas: Clube Filatélico e Numismático de Taquara-RS (CFNT) - Colaboraram no mapeamento os Srs. Rodrigo Leite e Victor Brasil do Fórum de Numismática

Imagem: O Diário Imperial

Informações dos leilões e de exposições públicas: Wikipedia

Imagens: Museu da Casa da Moeda de Portugal