A arte grega e particularmente a estatuária, sempre fascinou os romanos, que durante séculos se limitaram a copiar as grandes obras gregas. Já o retrato realista, é uma arte genuinamente romana, nascida da escultura funerária, em que se pretendia reproduzir com toda a exatidão a fisionomia do defunto.

Na numária da Republica Romana, proibia-se a representação das feições de um contemporâneo, com o propósito de evitar que se criasse o culto da personalidade, tão indesejado pelos romanos, desde que expulsaram os reis em 509 a.C.

O primeiro personagem romano imortalizado em vida numa moeda, foi o Consul Titus Quintius Flamininus, retratado numa moeda grega cunhada em 196 a.C. para comemorar a sua vitória sobre Filipe V da Macedónia.

Em meados do século I a.C, e por iniciativa de diversas famílias notáveis, surgem diversos personagens retratados postumamente em moedas, exaltando feitos heroicos praticados por esses seus antepassados, o que pretendia também glorificar a sua linhagem. Em 47 a.C uma personalidade voltou a ser retratada em vida, desta vez, numa moeda romana: Júlio César.

Seguiu-se a generalização das representações dos diversos personagens que participaram nos acontecimentos políticos que levaram ao desaparecimento da República, substituída pelo Império que iria perdurar por cinco séculos.

No Império a moeda teve um papel importantíssimo como veículo de propaganda dos feitos do soberano e do ideário romano, funcionando a imagem do imperador, como representante máximo da coesão política dos territórios romanizados. O anverso ostentava a efígie do Imperador, membros da sua família, ou personagens muito chegadas a este.

Contrariamente à numária grega, em que o indivíduo era representado como o arquétipo da perfeição e da beleza, em Roma, assistimos à representação de retratos de excepcional fidelidade física, e penetração psicológica.

A moeda, acessível a todos os estratos sociais, e circulando em todo o vasto território do Império, permitia identificar um indivíduo concreto, com características físicas muito personalizadas, como o senhor absoluto, divino, e com poderes ilimitados.

Este realismo da figuração do indivíduo, também tem como objetivo dar uma materialização ao poder, e induzir ao cidadão, uma maior obediência e devoção.

Nas moedas do alto Império apreciamos retratos de grande esplendor artístico e realístico. O sestércio, devido ao seu grande módulo, é a moeda onde se evidencia a excelência do retrato. Em alguns sestércios de Cláudio, podemos observar o seu queixo descaído e boca torcida, sinais da sua doença;

Nero é representado obeso, com um olhar feroz e obstinado; a idade avançada de Galba é bem perceptível, e Vespasiano é representado com um realismo em que é desprovido de qualquer tipo de beleza física.

Em Nerva, observamos um nariz descomunal, que em momento algum se tentou disfarçar. Adriano, é retratado com barba, moda que viria a ser seguida pelos seus sucessores.

Também nos retratos femininos observam-se os penteados e toucados elaborados, criando um efeito artístico de grande beleza.

A partir de meados do século III, com o poder imperial fragmentado, assistimos a uma multiplicação das casas emissoras de moeda, o que vem originar uma falta de unidade estilística, e se em alguns casos o retrato é elaborado com minúcia e perfeição, por vezes transforma-se quase numa caricatura, não se dando importância ao realismo e ao pormenor, aparecendo as imitações barbarizadas.

Vai-se enraizando em Roma a figura do Imperador divinizado, um semideus, um ser sagrado, e como tal, a figura humana já não apresenta defeitos físicos que a possam ligar ao comum dos mortais; o retrato torna-se cada vez mais estereotipado desprovido de qualquer caracterização específica.

Os retratos do artigo

Publicaremos uma série de 11 artigos aqui no Blog da Collectprime, onde representaremos 260 retratos de 259 personagens (Otávio repete-se como Augusto).

Alguns bustos não se apresentam em perfeitas condições, tal fato deve-se à má conservação dos raros exemplares numismáticos conhecidos, ou a cunhagens provinciais de menor qualidade artística.

Do fundador da Republica, ao último Imperador do ocidente, podemos contemplar os rostos daqueles que durante um milénio foram os vultos mais proeminentes da Roma Antiga.

Títulos utilizados por soberanos romanos

Antes de adentrarmos no mundo dos retratos dos soberanos da numária romana, convém que o leitor esteja familiarizado com os termos utilizados para designar os cargos dos retratos apresentados, ou pelo menos tenha uma lista dos mesmos para consultas durante a leitura, vejamos:

República Romana

  • Dictator: Cargo político exercido apenas em condições excepcionais, com a duração de seis meses.
  • Imperator: Comandante em chefe; Título obtido após um importante triunfo militar.
  • Consvl: Magistrado supremo na Republica Romana; Eleitos anualmente, em número de dois, comandavam o exército, convocavam o Senado e presidiam aos cultos públicos.
  • Praetor: Magistrado que exercia funções judiciárias.
  • Magister Eqvitvm: Comandante de cavalaria, ou segundo comandante, sob o comando do Dictator.
  • Censor: Cargo da República de cinco anos de vigência ostentado por dois indivíduos.
  • Tribvnicia Potestas: A magistratura plebeia, sem a participação dos nobres; Após Augusto torna-se um cargo exclusivo do Imperador.
  • Pontifex Maximvs: O sacerdote supremo; posto religioso durante a Republica, após Augusto, torna-se num cargo político.
  • Legatvs: General do exército romano.
  • Rector provinciae: Oficial romano, nomeado para governar uma ou mais províncias.
  • Aegypto Regina: Rainha do Egito.

Império Romano

  • Avgvstvs: O Imperador; significava, o Divino, sua Majestade. Desde Augusto, todos os Imperadores o usaram como cognome.
  • Avgvsta: A esposa ou alguma mulher notável da família do imperador; nem todas as esposas receberam esta distinção, e algumas receberam-na postumamente.
  • Byzantium Avgvstvs: Imperador romano do oriente, após 395.
  • Imperator: Comandante em chefe; Título obtido após um importante triunfo militar; no Império, converteu-se no prenome da maioria dos imperadores.
  • Caesar: Prenome geralmente utilizado pelos herdeiros do trono imperial.
  • Consvl: Titulo meramente honorífico, exercido pela maioria dos imperadores.
  • Princeps Ivventvti: Título honorífico, dado ao herdeiro do Império.
  • Tribvnicia Potestas: No Império, era um cargo exclusivo do Imperador, que lhe dava os poderes de um Tribuno, com poderes de vetar as decisões do Senado.
  • Pontifex Maximvs: O sacerdote supremo; posto religioso durante a Republica, após Augusto, torna-se num cargo político.
  • Pater Patriae: O Pai da Pátria; título honorífico.
  • Pius Felix: O piedoso e bendito; título honorífico.
  • Dominvs Noster: O nosso senhor; usado a partir de 350, substitui IMP. CAES.
  • Roma Rectorem: Regente do Império. Refere-se a Júlia Soaemias, durante a infância do seu filho, Elagabalo.
  • Consors Imperi: Acompanhante do imperador, refere-se a Júlia Mamaea, que acompanhou o seu filho Alexandre Severo, nas suas campanhas.
  • Rex Regum: Rei dos reis, título honorífico, atribuído a Hannibalianus.
  • Magister Militum: Patente militar utilizada no baixo Império, para designar o comandante do exército;
  • Usvrpator: Usurpador do poder, auto intitulado de Augusto, mas nunca reconhecido pelo Senado.

República Romana: Estampa I

Apresentamos abaixo os 16 retratos que separamos para esse artigo inicial, os quais chamaremos de Estampa I, todos encontrados em moedas da República Romana (509 a.C. - 27 a.C.).

Lucius Brutus

LUCIUS BRUTUS: Lvcivs Ivnivs Brvtvs, Fundator Reipublicae, Consvl (509 a.C.)
Lvcivs Ivnivs Brvtvs (LUCIUS BRUTUS) - Fundator Reipublicae Consvl (509 a.C.)

Liderou a revolta que derrubou o último rei de Roma, Lúcio Tarquinio Superbus, e como tal é considerado o fundador da República Romana; Consul em 509 a.C.

Ahala

AHALA: Gaivs Servilivs Ahala, Magister Equitum (439 a.C.)
Gaivs Servilivs Ahala (AHALA) - Magister Equitum (439 a.C.)

Político e herói romano, no século V a.C. Serviu como Magister Equitum em 439 a.C.

Marcellus

MARCELLUS: Marcvs Clavdivs Marcellvs, Consvl (222 a.C. / 215 a.C. / 214 a.C. / 210 a.C. / 208 a.C.)
Marcvs Clavdivs Marcellvs (MARCELLUS) - Consvl (222 a.C. / 215 a.C. / 214 a.C. / 210 a.C. / 208 a.C.)

Prestigiado militar, eleito Consul por cinco vezes; foi distinguido com o título de maior prestígio de um general romano, o opima spolia, por matar o rei, e líder militar gaulês, Viridomaro, num combate pessoal, em 222 a.C. na batalha de Clastidium.

Scipio Africanus

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Pvblivs Cornelivs Scipio Africanvs (SCIPIO AFRICANUS) - Consvl (205 a.C. / 194 a.C.) / Censor (199 a.C.)

Estadista da República Romana, e General na segunda guerra púnica, derrotou Aníbal, na batalha de Zama.

Vaala

VAALA: C. Nvmonivs Vaala
C. Nvmonivs Vaala (VAALA)

Conhecido apenas através da numismática, foi um militar romano que se destacou na conquista de uma fortificação inimiga.

Flamininus

FLAMININUS: Titvs Qvinctivs Flamininvs, Consvl (198 a.C.) / Censor (189 a.C.)
Titvs Qvinctivs Flamininvs (FLAMININUS) - Consvl (198 a.C.) / Censor (189 a.C.)

Político e militar romano que se destacou na conquista da Grécia, ao derrotar Filipe V da Macedónia; foi o primeiro personagem romano a ser retratado em vida, numa moeda. Foi eleito Consul em 198 a.C.

Albinus

ALBINUS: Avlvs Postvmivs Albinvs, Consvl (99 a.C.)
Avlvs Postvmivs Albinvs (ALBINUS) - Consvl (99 a.C.)

Político da República Romana, eleito Consul em 99 a.C.

Caldus

CALDUS: Gaivs Coelivs Caldvs, Consvl (94 a.C.)
Gaivs Coelivs Caldvs (CALDUS) - Consvl (94 a.C.)

Político da República Romana, eleito Consul em 94 a.C.

Rufus

RUFUS: Qvintvs Pompeivs Rvfvs, Consvl (88 a.C.)
Qvintvs Pompeivs Rvfvs (RUFUS) - Consvl (88 a.C.)

Político da República Romana, eleito Consul em 88 a.C. Partidário de Sulla, participou na guerra civil entre este, e Mário.

Sulla

SULLA: Lvcivs Cornelivs Svlla, Dictator (82 - 81 a.C.)
Lvcivs Cornelivs Svlla (SULLA) - Dictator (82 - 81 a.C.)

Estadista e Dictator; Eleito Consul por duas vezes, reformou a Constituição da Republica romana. Venceu a guerra civil, que travou com Mário.

Quintus Arrius

QUINTUS ARRIUS: Qvintvs Arrivs, Praetor (72 a.C.)
Qvintvs Arrivs (QUINTUS ARRIUS) - Praetor (72 a.C.)

Praetor em 72 a.C. combateu na guerra contra Spartacus.

Antius Restio

ANTIUS RESTIO: Gaivs Antivs C. F. Restio, Tribvnicia Potestas (68 a.C.)
Gaivs Antivs C. F. Restio (ANTIUS RESTIO) - Tribvnicia Potestas (68 a.C.)

Tribunícia Potestas, tribuno da plebe, em 68 a.C.

Crassus

CRASSUS: Marcvs Licinivs Crassvs, Consvl (70 a.C. / 55 a.C.)
Marcvs Licinivs Crassvs (CRASSUS) - Consvl (70 a.C. / 55 a.C.)

Patrício, general e político da República Romana; financiou Júlio César na sua campanha política, e como militar, comandou a vitória decisiva de Sulla na guerra civil, e esmagou a revolta dos escravos, liderada por Spartacus. Integrou o primeiro Triunvirato, com Pompeu e César.

Pompeius Magnus

POMPEIUS MAGNUS: Gnaevs Pompeivs Magnvs, Imperator (84 a.C.) / Consvl (70 a.C. / 52 a.C.)
Gnaevs Pompeivs Magnvs (POMPEIUS MAGNUS) - Imperator- 84 a.C. / Consvl (70 a.C. / 52 a.C.)

General e político, foi eleito Consul por quatro vezes. Partidário de Sulla, sendo aclamado Imperator, em África. Integrou o primeiro Triunvirato, com Crasso e Júlio César; após a morte de Crasso, César e Pompeu, tornaram-se inimigos, acabando por ser vencido.

Julius Caesar

JULIUS CAESAR: Gaivs Ivlivs Caesar, Imperator (45 - 44 a.C.) / Dictator in perpetuum (44 a.C.)
Gaivs Ivlivs Caesar (JULIUS CAESAR) - Imperator (45 - 44 a.C.) / Dictator in perpetuum (44 a.C.)

Patrício, general e político da República Romana; Conquistou a Gália, e estendeu o domínio de Roma, até ao Oceano Atlântico. Integrou o primeiro com Pompeu e Crasso, tendo posteriormente combatido e derrotado Pompeu. Foi o artífice do nascimento do Império.

Brutus

BRUTUS: Marcvs Ivnivs Brvtvs, Imperator (44 a.C.) / Praetor (45 - 42 a.C.)
Marcvs Ivnivs Brvtvs (BRUTUS) - Imperator (44 a.C.) / Praetor (45 - 42 a.C.)

Patrício, político e militar, apoiou Pompeu na guerra civil contra César; perdoado por este, viria a ser um dos conspiradores do assassinato de Júlio César; perseguido por Octávio e Marco António, suicidou-se após ter sido derrotado na batalha de Philippi, em 42 a.C.