Diante da inevitável evolução natural dos meios de pagamento, as moedas digitais tem tirado o sono de muitos colecionadores, e tenho visto uma crescente preocupação com o fim do colecionismo de cédulas e moedas, vendo até colecionadores "apavorados", querendo se desfazer de suas coleções, com medo dos valores "derreterem", como ocorreu antigamente com a filatelia...
Para definir conceitos, e expor opiniões, precisamos primeiramente definir as diferenças entre os tipos de meios de pagamento em questão.
Portanto temos, basicamente, dois tipos a considerar nesta análise:
A Moeda Fiduciária, que é a moeda determinada por Lei para circular em uma região, tendo cunho forçado e aceitação obrigatória, sendo sempre emitida de maneira oficial, por um País ou Nação Soberana;
E a Moeda Digital, que nada mais é que um meio de pagamento, oficial ou não, porém não possui uma representação física, mas sim eletrônica.
Partindo deste entendimento, agora precisamos compreender o que seria a Moeda Virtual, que é um sub grupo das Moedas Digitais, com o qual se pode realizar transferências entre as contas Virtuais, efetuar pagamentos para pessoas e empresas, comprar produtos, desde que sejam aceitos de comum acordo.
A Moeda Virtual pode ser de origem oficial, garantido por um Estado, como o Yuan Digital lançado na China, que nada mais é que a versão digital do seu dinheiro físico oficial, não o substituindo, criado para facilitar as transações comerciais, diminuir custos de produção, reduzir custos de transporte e custódia do dinheiro físico e ainda, aproveitando esta época de pandemia, serve de medida de controle sanitário.
Ou seja, é uma maneira complementar da moeda física oficial, ambas serão aceitas como meio de pagamento oficial, tendo cunho forçado pelo Estado.
Mas a maior diferença das moedas Virtuais em relação a moeda Física, é que elas também podem ser administradas/emitidas pela iniciativa privada, quando não se possui garantia do Estado para que aquela transação seja realmente realizada e sem órgãos reguladores do governo como garantia de idoneidade, sendo o Bitcoin o exemplo mais conhecido delas.
Tais modelos de Moedas Virtuais são considerados juridicamente, pela maioria dos países, como ativos financeiros, e não como moedas, já que não são emitidos de forma que o Estado a autorize, fiscalize e garanta aquela operação, o que facilita pagamentos ilícitos, dificulta que o dinheiro seja rastreado, e ainda não pode ser tributado na maioria dos países.
Expostas estas definições, podemos explicar o ponto de vista que mais interessa aos colecionadores, e responder a pergunta crucial:
As moedas físicas serão realmente extintas?
E a resposta, com certeza absoluta, é que as moedas físicas não serão substituídas por completo, ao menos no período em que nós estaremos por aqui, ainda presentes neste mundo....
A Moeda oficial virtual complementa a moeda física como meio de pagamento necessário na atualidade, surge para regulamentar os meios de pagamento virtuais, trazendo para a legalidade aquelas transações do mundo virtual, garantindo que você não perderá seu dinheiro, já que o Estado te garante que você receberá seu dinheiro físico, se assim o desejar, o que não acontece com o Bitcoin, por exemplo.
A Moeda Virtual oficial tem como intenção diminuir os gastos com cunhagem de moeda e impressão de cédulas, o que é excelente para o mercado numismático, já que quanto menores as quantidades emitidas, maiores os valores para os colecionadores e comerciantes de artigos numismáticos.
E sendo esta uma moeda virtual oficial, se garante a continuidade do dinheiro físico, e não a sua substituição gradual por modelos exclusivamente virtuais, como o Bitcoin e seus pares poderiam ameaçar.
Para fundamentar ainda mais nossa afirmação, utilizamos os dados da reportagem do site da Revista Exame, publicado no dia 18 de agosto de 2019, a qual pode ser analisada na sua íntegra, através do link a seguir.
Segundo a reportagem, 45 milhões de brasileiros são considerados desbancarizados, ou seja, não possuem nenhuma forma de vínculo com instituições bancárias, seja através de contas bancárias, seja através de cartões de crédito e/ou débito.
"Oitenta e seis por cento dos desbancarizados estão concentrados nas classes econômicas C, D e E, que é a parcela da população menos conectada e com maior informalidade de trabalho. Desses, 49% estão na classe média (C). Dos 45 milhões de desbancarizados, 58% têm apenas o ensino fundamental ou não têm instrução; 31% disseram ter recebido algum empréstimo e 45% informaram ter recorrido a familiares e 25% a amigos. Somente 24% recorreram a bancos ou financeiras para obter um financiamento ou empréstimo."
Dessa maneira fica comprovada a total inviabilidade da substituição do dinheiro físico pela sua forma virtual, devido a falta de instrução da maioria das pessoas que estão fora do sistema bancário, a falta de confiança ou interesse nas instituições financeiras, ao costume de regiões interioranas, onde a velha caderneta de fiado supre a falta destes produtos bancários a que eles não possuem acesso, e sem custo algum aos usuários, sendo que o cartão de crédito ou a manutenção da conta bancária possuem custos, que na percepção dessas pessoas é elevado.
Colabora com a nossa tese, a intenção frustrada do governo Federal de efetuar os pagamentos do auxílio emergencial durante a pandemia do Covid-19, através do aplicativo Caixa Tem, onde os usuários teriam o valor de seu auxílio disponível para pagamentos virtuais, disponibilizados 30 dias antes do que a opção de sacar o dinheiro em espécie.
Mesmo com esse enorme período de espera, a grande maioria das pessoas optou por aguardar esses 30 dias para sacar o dinheiro físico, o que levou ao colapso do sistema bancário, devido a falta de dinheiro em espécie disponível no mercado, já que em momentos de crise, as pessoas também tendem a guardar uma maior quantidade de dinheiro físico em espécie em suas residências, por medo ou receio de precisar se expor na locomoção até a agência bancária.
Os meios de pagamentos físicos e virtuais serão complementares, um auxiliando o outro na resolução dos problemas encontrados pela sociedade, e essa transição faz parte da evolução natural dos meios de pagamentos, que sofrem mutações de tempos em tempos, a fim de satisfazer as necessidades e anseios da sociedade, ou ainda estaríamos na era do escambo...
Vale ressaltar ainda que o Brasil terá a sua versão oficial de moeda digital, como explica a reportagem do Jornal O Globo do dia 08 de Julho de 2020, a qual pode ser verificada em sua íntegra, no endereço abaixo.
"O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o sistema de pagamentos instantâneos PIX é parte do que a instituição vê como sistema financeiro do futuro, culminado com uma moeda digital."
Tal afirmação foi realizada no evento Conexão Pix, disponível também no YouTube, e deixa claro que nosso país está na vanguarda quanto ao desenvolvimento de tecnologia para CBDCs (Moedas Digitais Emitidas por Bancos Centrais).
Confirmando a nossa afirmação, vemos a rápida atuação do governo federal para implantação da plataforma Caixa Tem durante a pandemia atual, simplesmente porque a plataforma está pronta para o lançamento do PIX, e está sendo testada em larga escala, o que é uma imensa vantagem brasileira frente aos demais países que testam suas moedas digitais oficiais.
Não fosse desta maneira, ainda estaríamos a desenvolver o sistema e banco de dados para implantação do sistema, e as pessoas que dele dependem estariam a passar dificuldades.
Bom, temos o PIX e Real digital a caminho, então o governo não depende ou necessita mais gastar milhões de Reais com a fabricação de cédulas e moedas correto? A numismática irá acabar por falta de "matéria prima"?
Novamente afirmamos que não!
E isso é facilmente comprovado pela divulgação do lançamento da nova cédula de 200,00 Reais, que possui como finalidade principal, abastecer os bancos a fim de pagar os milhares de Reais do Auxílio Emergencial, o qual o meio digital não conseguiu substituir, pela simples falta de adesão suficiente.
Portanto teremos nas CDBCs a garantia de convivência pacífica entre o mundo digital e o físico, a garantia de continuar as nossas coleções, e ao mesmo tempo ter a garantia de não precisar depender dos meios de pagamentos físicos e correr riscos para transportar volumes maiores de dinheiro pelas ruas, unindo o melhor de cada mundo:
A segurança e praticidade dos meios de pagamento digitais, e a continuidade da produção de cédulas e moedas, em quantidade reduzida quando comparadas as quantidades atuais, o que é excelente do ponto de vista numismático, já que escassez gera valorização do material.
Portanto não existe motivo algum que leve a acreditar no fim completo do dinheiro físico, e consequentemente na dificuldade da continuação do nosso hobby, sendo as moedas digitais oficiais os "Anjos da Guarda" a garantir a continuidade do nosso querido dinheiro físico, já que este garante a continuidade da parceria entre ambos os mundos, do dinheiro físico e do dinheiro virtual, e ainda visa proteger o sistema financeiro das demais moedas virtuais não oficiais.