Vou falar nesse artigo um pouco sobre moedas com cunho descentralizado, ou como popularmente são chamadas moedas com "boné" ou moedas com "cunho deslocado".
Embora seja um tema bem batido e a maioria dos colecionadores já conhecerem as explicações de como esse erro acontece, sempre surgem dúvidas e cabe aqui esclarecer para evitar equívocos.
De forma bem direta, esse erro acontece quando o disco não fica corretamente centrado em relação ao cunho no momento da batida de cunhagem, dessa forma o design é transferido em ambos os lados da moeda, mas descentralizado.
Erros de cunho descentralizado podem ser causados pela falha ou quebra da virola, mas frequentemente é por falha na alimentação dos discos, que pode ter sido alimentado muito rápido ou devagar.
Para fins de interesse para coleção, quanto maior a descentralização, maior o interesse do colecionador.
Existem dois tipos do erro de cunho descentralizado:
- Uncentered Broad strike (descentralização parcial): quando o erro acontece como um leve deslocamento, mantendo todos os elementos do design dentro do disco.
- Off-center Strike (cunhagem fora do centro): quando apresenta um deslocamento maior, chegando a apresentar parte do disco sem cunhagem, neste caso quando certificadas é citado o porcentual de cunhagem fora do disco.
É interessante ressaltar que as serrilhas das atuais moedas do real da segunda família, são feitas durante a cunhagem da moeda, através da virola, que são trocadas de acordo com o padrão monetário e que transferem a serrilha para os discos.
Assim, uma moeda com cunho descentralizado foi cunhada com parte do disco fora da virola o que gera uma serrilha parcial ou totalmente ausente.
O cunho descentralizado pode ocorrer também com dupla batida, sendo as batidas deslocadas em relação ao eixo central da moeda, fazendo com que apresente dois erros numa mesma peça.
Algumas moedas com esse erro podem apresentar seu disco encurvado, onde a força da pancada faz com que o disco se dobre sendo envergada na virola.
Uma dúvida frequente de colecionadores é sobre qual o tamanho ideal do erro (ou do disco liso sem design) a ser considerado em uma peça para colocar na coleção: na minha opinião não há um padrão, eu costumo dizer que quando corta parte do design da moeda já é interessante guardar.
As certificadoras utilizam uma fórmula para calcular o percentual de deslocamento e usam o resultado dessa fórmula para incluir o percentual no slab. Deixo abaixo um pequeno esboço:
A moeda abaixo é um exemplar certificado do numismata Rodrigo Almeida, usada aqui como exemplo de uma boa peça de cunho descentralizado. Perceba que a certificadora incluiu no slab o percentual de deslocamento.
Ainda não temos certificadoras no Brasil, pois os equipamentos são bem caros, e também enviar as dos EUA além de arriscado pelos correios, acaba não compensando. As principais casas de leilões americanas normalmente só vendem moedas anômalas se estiverem certificadas.
Essa certificação não quer dizer que a peça seja autenticada porque certificadoras não autenticam moedas de outros países, mas uma moeda certificada possui um número de registro na base de dados da certificadora e que pode ser consultado através do site (o número de certificado foi ocultado na foto do Rodrigo Almeida).
Essa é minha contribuição para os colecionadores de moedas com erros, o artigo faz parte do meu livro "Manual de Erros em Moedas", publicado em 1ª edição no ano de 2019 contendo 150 páginas.