Existe uma grande confusão entre os numismatas brasileiros e inclusive entre os comerciantes, mesmo os de renome e com muitos anos de experiência no COMÉRCIO numismático (e nem sempre nos ESTUDOS numismáticos…), acerca de determinadas anomalias que ocorrem nas moedas brasileiras (e também mundiais), as quais por aqui denominam todas genericamente pelo nome "Batida Dupla".

Algumas se tornaram catalogadas e aparecem nas obras de J. Vinicius, Arnaldo Russo e Carmelino Gomes, e às vezes com cotações altas. Outras, ganharam até mesmo apelidos próprios, como "Mapa Duplo", "Brasil Duplo", etc., porém nenhuma das obras explica o que são essas anomalias e muito menos as suas causas, apenas descrevem o que veem, e inventam apelidos.

Pior, tampouco as diferenciam, já que NÃO SÃO todas a mesma coisa, e TODAS as obras escritas até o presente momento, em português, erram em denominá-las como batidas duplas. Simplesmente se limitam a dar cotações, mas como podem cotar o valor daquilo que desconhecem as causas e a sua real importância?

Então passemos a esclarecê-las. Na verdade, estamos lidando com três anomalias diferentes, denominadas "Batida Dupla", "Matriz de Cunho Duplicada" e "Duplicação de Máquina".

A primeira, "Batida Dupla", é bastante óbvia. Porém, estas duas últimas requerem uma explicação bastante detalhada, pois à simples vista, para o numismata desinformado, parecem ser a mesma coisa, porém possuem causas totalmente diferentes.

Aprenda mais sobre a Matriz de Cunho Duplicada

Assim sendo, passo agora a descrever da forma mais cuidadosa possível para que sua identificação seja inequívoca.

Batida dupla ou Double Strike

É bastante óbvia à simples e primeira vista. Durante o processo normal de cunhagem, um disco em branco é atingido uma vez pelos cunhos de anverso e reverso, e em seguida a moeda é ejetada. Se uma moeda não for ejetada corretamente, será atingida novamente pelos cunhos.

As moedas podem ser inclusive atingidas várias vezes, ocorrendo batidas triplas, quádruplas, etc. (e receberão estes nomes, conforme o número de batidas) e em diversos ângulos distintos daqueles da primeira batida.

As batidas duplas podem ocorrer totalmente dentro do disco, ou atingindo somente uma parte do disco, mas SEMPRE em ambos os lados das moedas, anverso e reverso. Todos os elementos do design do cunho são visíveis.

As Batidas Duplas são sempre anomalias importantes, do tipo que chama a atenção ao primeiro olhar, e por isso são muito procuradas e costumam atingir bons preços de mercado, em moedas de todo o mundo.

Na numária brasileira, não costuma aparecer com grande frequência. Faz parte dos melhores tipos de anomalias dos quais se pode recolher para a coleção. É preferível aquelas peças que apresentem a data visível.

Seguem exemplos abaixo em moedas brasileiras.

Moeda de 50 centavos de 2013 com batida dupla, carinhosamente apelidade de "505 centavos" — Imagem de Wagner Lambertuci
Moeda de 20 cruzeiros de 1981-1986 com batida dupla — Imagem de Luan Cattelan
Moeda de 1 cruzeiro de 1980 com batida dupla — Imagem de Luan Cattelan
Moeda de 20 réis de D. Pedro II de 1868-1870 com batida dupla — Imagem de Leilão Miguel Salles

Um esclarecimento: Como poderás perceber, a moeda da segunda imagem possui a segunda batida totalmente invertida em relação à primeira. O ângulo das batidas subsequentes nesta anomalia é irrelevante e não influi em nada, já que é causado por simples sorte e acaso, no saltar parcial da moeda de dentro da virola.