Como definir o estado de conservação de moedas não circuladas com a escala Sheldon
Nesse artigo discutiremos sobre a Escala Sheldon, ferramenta indispensável utilizada por numismatas de todo o mundo para determinar o estado de conservação de moedas, um dos assuntos mais discutidos na Numismática.
Uma pequena diferença no estado de conservação pode significar diferenças substanciais no valor agregado à peça. E é tão importante porque quase todos que se prezam no hábito de colecionar moedas, buscam pelas melhores peças.
No entanto, por vezes, nos deparamos com situações um tanto difíceis, especialmente quando é utilizada a escala brasileira, que é muito subjetiva. Neste sentido, entre várias classificações diferentes, a escala Sheldon tenta passar ao largo da subjetividade, o que nem sempre é possível.
Determinar o estado de conservação de uma moeda, especialmente quando não é circulada (estado em que se apresenta assim como saiu da máquina de cunho, ou Mint State – MS).
A complexidade é tanta que existem livros inteiramente dedicados a esta tarefa, bem como agências que oferecem o serviço profissional de graduação de estado de conservação, tais como PCGS, NGC, ICG, etc.
No entanto, nem sempre é viável enviar uma peça para graduar nestas agências, especialmente quando o valor da peça é baixo e não compensa financeiramente pagar por todo o processo. Neste caso, sempre se fica com a dúvida acerca do real estado de conservação da moeda.
Nesse artigo vou apresentar o resultado dos últimos 8 meses de leituras e testes, com falhas e acertos, sobre a graduação na escala Sheldon. Este estudo está primariamente baseado no material online How to Grade US Coins de Scott Travers, um dos mais conhecidos e respeitados negociantes de moedas no mundo, e no livro The Official ANA Granding Standards for US Coins da Associação Numismática Americana [1], que traz o que há de mais recente na área de graduação de moedas.
Além disso, o material é composto por notas e observações obtidas em fóruns de numismática nacionais e estrangeiros, em grupos de discussões, em notas apontadas pelas grandes certificadoras, como NGC, PCGS e ICG, etc.
NOTA: Este artigo é bastante extenso, com a maior quantidade de informações que entendi como relevantes para uma classificação de estado de conservação mais adequada.
Se o leitor preferir deixar esta parte para um tempo posterior, ao final do artigo trago o diagrama para classificação de estado de conservação de moedas não circuladas atualizado.
O processo de graduar uma moeda
Segundo disse Kenneth Bressett de forma bem humorada, graduar moedas é muito fácil. Você só precisa de 4 coisas:
- Uma boa lupa;
- Uma boa iluminação;
- Uma boa memória; e
- 20 anos de experiência.
O Sr. Bressett referia-se à dificuldade encontrada em determinar o estado de conservação de uma moeda. Afinal, a atribuição de EC, mesmo na escala Sheldon, ainda é bastante subjetivo e dependerá muito da opinião de quem está atribuindo a classificação.
Segundo Scott Travers, ao se graduar uma moeda é necessário considerar quatro tópicos:
- a integridade ou preservação da superfície;
- a qualidade do cunho;
- o brilho do cunho; e
- o apelo visual.
NOTA: Em seu livro [1], a ANA também separa em 4 grupos, com apenas uma modificação: no lugar da qualidade do cunho no item 2, entraria a consideração de hairlines, sem considerar a qualidade do cunho em um tópico específico.
No entanto, entendendo hairline como uma alteração da superfície, preferi considerar os tópicos do Sr. Scott Travers e manter a qualidade do cunho como um quesito, considerando as hairlines dentro do item 1, na conservação da superfície.
Vamos agora à discussão detalhada de cada um dos quatro tópicos elencados pelo Sr. Travers.
1. Preservação da superfície
A conservação da superfície de uma moeda é a mais importante característica dela e será seu principal determinante quanto ao estado de conservação.
Praticamente todas as moedas, especialmente as de circulação comum, apresentarão marcas em sua superfície, tais como as batidas adquiridas durante o processo de cunho, quando são atiradas por canaletas, contêineres, máquinas de contar, embaladas e transportadas dentro dos sachês.
Este processo todo acaba produzindo uma série de marcas de contato, pequenas batidas (bagmarks ou bagnicks), arranhões, etc. Quanto maiores e mais numerosas as batidas, maior será a área da moeda afetada e, consequentemente, menor a qualidade da superfície.
Além destas batidas, há ainda marcas similares a pequenos riscos, denominadas hairlines, que tem origem em processos mecânicos de fricção, tais como os originados por limpeza física, embalagem e manuseio inadequados, etc.
Estas marcas são geralmente o principal depreciador de uma moeda, uma vez que influenciam diretamente seu apelo visual. Quanto maior a marca, mais grave será o efeito causado. O tamanho da marca será determinado pela quantidade/área de metal deslocado/afetada.
No entanto, mesmo entre estas marcas, umas são piores que outras. Por exemplo, riscos podem ser muito mais depreciativos que bagmarks, mesmo que ocupem a mesma área. Isto porque um risco diminui muito mais o apelo visual do que uma batida.
Porém, o mesmo não se aplica diretamente para marcas provenientes dos processos antes ou durante a cunhagem, sendo estas anomalias geralmente mais aceitáveis que aquelas adquiridas nos processos pós cunho.
Isto se aplica à laminação, cunho gasto, cunho rachado, ou qualquer outra marca com origem similar.
Obviamente que se o problema do cunho for muito pronunciado, afetará mais o estado da moeda do que marcas menores pós cunhagem. Em geral, assume-se que erros de cunho terão metade do peso que as bagmarks ou hairlines.
Outro fator crítico é a posição em que a marca está localizada. Uma batida pequena num ponto focal da moeda (pontos em que você olha primeiro ao visualizar uma moeda) afetará mais o grau de estado de conservação que uma batida maior localizada numa região menos importante do desenho da moeda.
Para pensar num exemplo disso, imagine uma moeda de 1000 réis de 1913 com uma pequena batida sobre o rosto da efígie em comparação a outra com uma batida maior em uma região externa, digamos, ao lado do anel de estrelas. A batida no rosto da efígie será muito mais notável que a do lado das estrelas, mesmo a primeira sendo menor.
Por isso, marcas em regiões focais da moeda são mais críticas na determinação do EC. Da mesma forma, uma hairline causará mais impacto se estiver diretamente sobre a face da efígie do que se estiver na direção dos cabelos, por exemplo.
O rebordo da moeda é a parte que menos afeta a classificação, uma vez que fica completamente fora do campo visual. É o último item a se considerar. É claro que isso em se tratando de marcas menores. Uma mossa no rebordo pode ser muito mais depreciativa que várias bagmarks sobre o campo visual da moeda.
2. Qualidade do cunho
O segundo fator que influenciará o estado de conservação de uma moeda é a qualidade do cunho.
São várias as características que determinarão este ponto, incluindo desde problemas com material que é utilizado na confecção do disco, problemas ocorridos durante a confecção do disco e todos aqueles que tem origem nos cunhos em si, como qualidade da confecção, desgaste, qualidade do material, qualidade do design e até mesmo a pressão exercida na batida.
Moedas de circulação comum normalmente possuem cunho de baixa qualidade. O desenho por vezes é pouco definido e/ou feito com pouco precisão, com o processo de usinagem do cunho é de menor qualidade.
Além disso, a batida exerce menos pressão e não é empregado grande esforço para que a moeda seja "perfeita", já que o objetivo é que seja útil ao meio circulante e não que seja atraente ao colecionador.
O material do disco utilizado também é inferior, com uma grande quantidade de impurezas e confeccionado por processos não tão exigentes.
Já algumas moedas comemorativas são fabricadas a partir de um processo um pouco melhor, o Brilliant Uncirculated, onde o cunho é confeccionado com mais cuidado e de forma mais refinada.
Além disso, na cunhagem é empregada maior pressão e menos velocidade, dando origem a uma moeda de melhor qualidade. Infelizmente, no Brasil, o material utilizado nos discos não é melhor, dando origem a moedas que em pouco tempo passaram a apresentar problemas.
Por último, há o cunho do tipo Proof. É a forma mais refinada de cunhagem, com o cunho sendo produzido com a maior qualidade possível, desde o desenho até a usinagem.
Na cunhagem, também é aplicado muito mais cuidado, com o cunho sendo pressionado até 5 vezes sobre o mesmo disco, que então, a agora moeda, é inspecionada cuidadosamente por uma pessoa qualificada.
Embora hajam exemplos deste tipo de moedas utilizadas para circulação comum, em geral estas são direcionadas para o mercado de colecionadores.
Fora estes três tipos, há um quarto que não é completamente aceito, o chamado primeiro dia de cunho. Neste grupo entram as primeiras moedas cunhadas com um par de cunhos novos, que espera-se estarem em melhores condições e, consequentemente, as moedas possuem detalhes mais finos.
No entanto, somente isto não é garantia de que o a qualidade seja de fato superior, uma vez que não está garantida no processo de usinagem dos cunhos.
3. Brilho do cunho
Durante o processo de cunhagem, um disco é comprimido entre dois cunhos a alta pressão, que é quando toma o formato do desenho pretendido. É esta pressão o fator responsável por atribuir o brilho característico do cunho a uma moeda.
É uma propriedade que pode somente ser adquirida por pressão, de modo que nenhum outro processo posterior é capaz de reproduzi-la. É uma característica física que o metal adquire sob pressão, que influencia sua capacidade e modo de refletir a luz e é de onde é tão importante conhecer este brilho característico.
Uma moeda que tenha passado por algum processo de limpeza física ou química perderá esta superfície. É evidente que há exceções, como por exemplo, os cunhos tipo Brilliant Uncirculated e Proof. que não produzem este efeito.
Quando se gradua o brilho de cunho de uma moeda, você basicamente gradua a intensidade, a beleza e a integridade da habilidade da moeda em refletir a luz, dentro dos limites de brilho característicos para o tipo de produto.
A graduação do brilho de cunho é uma das partes mais subjetivas do processo de determinação de estado de conservação e a habilidade neste é somente adquirida com a experiência.
Você não graduará apenas a existência do brilho do cunho, mas precisará saber identificar entre brilhos produzidos por diferentes tipos de cunho, ou mesmo, qualidade.
Além disso, precisará saber identificar entre o brilho original e o obtido a partir da alteração da superfície de alguma maneira. Será necessário aprender a reconhecer quando a moeda foi levemente friccionada, ou lavada com qualquer componente químico, processos estes que vão alterar o brilho, tornando-o opaco, liso ou extremamente brilhante.
O brilho original possui uma característica única, parecida com a aparência do brilho de neve fresca, de onde é cunhado o termo "frosty surfaces" ou "frosty areas".
É importante observar o brilho das partes altas da moeda e comparar com o brilho do campo. Se o brilho nelas for mais pronunciado que no campo, é bem provável que a moeda foi exposta a alguma fricção.
A moeda pode não possuir nenhum desgaste (se o tivesse, deveria ser graduada pelo menos como AU e não seria MS), mas este brilho alterado afetará o grau de estado de conservação da moeda e, quando é evidente a limpeza, não lhe é atribuído nenhum grau, fazendo com que o valor da peça seja consideravelmente afetado.
No processo de averiguação da qualidade do cunho não são consideradas as hairlines, uma vez que já o foram na parte da conservação da superfície. Mas o efeito sobre o brilho pode estar diretamente relacionado à limpeza, de modo que deve ser considerado em linhas gerais.
Quando fores graduar o brilho do cunho, alguns pontos que precisam ser considerados são:
- O brilho é opaco? Então provavelmente foi limpa;
- O brilho do cunho praticamente não existe mais, dando lugar a uma coloração escura? Então, provavelmente ficou exposta a uma atmosfera adversa, que fez com que uma fina camada de oxidação tenha se formado na superfície.
De qualquer forma, tudo deve ser anotado na descrição da graduação da moeda, até mesmo que ela possa ter sido limpa. Para estar apto a uma graduação mais acurada, é necessário tempo e prática. Portanto, faça muitos testes.
Gradue a mesma moeda múltiplas vezes, com intervalo de tempo entre as graduações de forma que possas testar o que aprendeu no período. Só assim conseguirás ser mais preciso na graduação.
IMPORTANTE: Note que neste tópico, qualquer marca de digital influenciará negativamente a graduação, uma vez que a marca produzida por dedos desprotegidos afetará o brilho bastante negativamente. Marcas deste tipo são muito piores que uma pátina ou coloração distribuída homogeneamente por toda a moeda.
4. Apelo visual
O apelo visual de uma moeda é o tópico mais subjetivo dos quatro aqui tratados. E ainda assim, é tão importante que pode fazer uma moeda valer 3x mais que outra de mesmo tipo e ano.
O Sr. Travers diz que o apelo visual pode ser dividido em 3 áreas distintas:
- Pátina (tonning, coloração);
- Balanço; e
- Atração estética.
4.1. Tonning (pátina ou coloração)
Uma moeda sem nenhuma pátina é, por vezes, a considerada mais "limpa". No entanto, a coloração que ela adquire naturalmente pode transformá-la de uma bela moeda numa peça estonteante.
Algumas vezes é de longe a característica que mais encanta ao primeiro olhar. No entanto, assim como pode torná-la bela, a pátina pode tirar um pouco o "charme" da moeda.
Numa escala de 1 a 5, uma moeda sem nenhuma pátina pode "ganhar" um 4, enquanto uma bela coloração, como a pátina arco-íris, ganhará um estrondoso 5. Já uma pátina malcuidada e inomogênea fará a "nota" diminuir, para um 2 ou 3, por exemplo;
4.2. Balanço
Este tópico considera a homogeneidade da superfície da moeda como um todo. Algumas perguntas a se fazer quando considerar o balanço são:
- A coloração/pátina é homogênea em ambos os lados da moeda?
- A textura da superfície é parecida em ambos os lados?
- Ou um lado possui mais marcas que outro?
- A moeda é agradável de se olhar tanto num lado quanto no outro?
Em todos os casos, quanto mais homogênea for a coloração, as marcas e a sensação agradável de olhar, mais positivamente influenciará o balanço, enquanto inomogeneidades influenciarão negativamente;
4.3. Atração estética
Talvez o item mais delicado deste tópico e, certamente o mais individual de todos eles. Cada pessoa tem um determinado padrão para a beleza estética e é aqui que a maioria dos especialistas diverge entre si.
Considere positivamente os aspectos que melhor lhe satisfazem e negativamente os que não. Tome nota de suas considerações para posterior verificação.
Por isso, ao graduar a sua moeda, considere primeiramente a coloração e o balanço, para somente então refinar sua consideração com a estética.
Aqui, definitivamente, qualquer marca influenciará a tomada de decisão, uma vez que diminuirá o apelo visual.
Uma digital, por exemplo, em uma moeda de 5 centavos de real, causará um grande estrago, diminuindo significativamente o apelo visual.
Com estas considerações em mãos, vejamos agora uma proposta de graduação numérica para as moedas não circuladas, baseada nos 4 tópicos apresentados até aqui.
Estado de Conservação: graduação numérica para moedas não circuladas
O Sr. Scott Travers propõe a utilização de um método numérico bastante prático na determinação do estado de conservação das moedas não circuladas, ao qual clamarei Método Travers.
A cada um dos quatro tópicos discutidos acima, será atribuído uma nota, um valor numérico de 1 a 5, onde 1 é o pior valor e 5 o melhor possível. O valor atribuído deve ser então direcionado à seguinte equação:
Preservação da superfície (1 a 5) X 2 | PSa | PSr | ||
---|---|---|---|---|
Qualidade do cunho (1 a 5) | GCa | GCr | ||
Brilho do cunho (1 a 5) | BCa | BCr | ||
Apelo visual (1 a 5) | AVa | AVr | ||
Total parcial | TPa | TPr | ||
Circulação comum | N = 0,6 x TPa + 0,4 x TPr = | |||
Comemorativas | N = 0,5 x TPa + 0,5 x Tpr = |
Seguindo este método, cada lado receberá uma nota para cada um dos tópicos, que posteriormente serão somados, dando origem à total parcial (TP). Segundo Scott Travers, normalmente se atribui maior peso à condição do anverso, uma vez que é o lado mais importante da moeda.
Por isso, o valor final N para a moeda será a soma da total parcial do anverso multiplicado por 0,6 com a total parcial do reverso multiplicado por 0,4.
Já para moedas comemorativas os dois lados tem importâncias iguais, portanto, o valor final N será a soma da total parcial de cada lado multiplicado por 0,5. Encontrado o valor N, basta comparar com a tabela a seguir:
5 a 12,99 | |
13 a 13,99 | |
14 a 17,49 | |
17,5 a 18,99 | |
19 a 20,49 | |
20,5 a 21,99 | |
22 a 22,99 | |
23 a 23,99 | |
24 a 24,49 | |
24,5 a 24,99 | |
25 |
O estado de conservação será o correspondente ao valor N na tabela acima. Para ser um pouco mais preciso nas atribuições das notas para cada um dos tópicos, vejamos a seguir algumas características que estarão relacionadas a cada nota, de modo a aumentar a acurácia na determinação da nota.
Determinação dos valores para cada um dos quatro tópicos
Ao se determinar a nota para os tópicos do método Travers, podemos fazer as seguintes considerações. Lembre-se que você pode atribuir valores fracionários, como 2,5 ou 4,3, para representar condições intermediárias às definidas abaixo.
NOTA: a descrição equivalente às notas abaixo sempre se refere ao lado, anverso ou reverso, que se está analisando.
Quanto às marcas
O quesito das marcas é o mais importante na consideração do método Travers. Nota-se isso quando na equação acima o valor atribuído a este item é multiplicado por 2. Em termos de valores, podemos definir o seguinte:
Muitas marcas sobre todo o campo da moeda, incluindo as partes focais. Várias marcas pesadas, riscos e numerosas batidas sobre todo o campo da moeda.
Mais de 10 pequenas marcas podem ser encontradas em todo o campo da face da moeda. No máximo 2 marcas moderadas (não muito depreciativas) podem ser visíveis e no máximo 2 hairlines ou riscos finos podem ser observados sem ampliação.
Não mais que 4 marcas perceptíveis a olho nu, porém não depreciativas, e no máximo 10 bem pequenas, visíveis sob ampliação de 7x. No máximo 3 hairlines ou riscos muito finos podem ser visíveis sob ampliação de 7x (não podem ser facilmente perceptíveis a olho nu).
Não pode ter mais que duas marcas não depreciativas perceptíveis a olho nu, com até 5 pequenas somente visíveis sob ampliação de 7x. Nenhuma hairline ou risco pode ser visível, mesmo sob ampliação de 7x.
Moeda perfeita, sem absolutamente nenhuma marca, hairline ou risco.
NOTA: Pode-se atribuir valores fracionários, como por ex., se o anverso da moeda possui apenas 1 marca pequena e nenhuma hairline, então pode-se definir o valor 4,5. Ou se a face possui apenas 4 pequenas marcas, pode-se atribuir o valor 2,8 e assim por diante.
Quanto à qualidade do cunho
A moeda apresenta muitos defeitos de cunho, como cunho rachado, quebrado ou gasto, cunho marcado, etc. Defeitos decorrentes da presença de sujeira no cunho também podem ser visíveis, bem como apresentar falhas decorrentes da baixa qualidade no processo de usinagem, como diferença de relevo em relação ao design original.
A qualidade do cunho deve ser mediana, sem muitos (menos que 8) defeitos visíveis.
A qualidade do cunho deve ser acima da média, com apenas pequenos detalhes como cunho marcado ou desgaste sendo visíveis com uma averiguação mais cuidadosa.
Qualidade acima da média, com no máximo 2 imperfeições observáveis sob aumento de 7x e cuidadosa comparação com o desenho original.
Perfeito. Este estado possivelmente somente será encontrado em cunhos especiais, como os Proof. ou Brilliant Uncirculated. Em moedas de circulação comum é quase impossível encontrar tal fineza.
NOTA: Novamente é recomendada a utilização fracionária para atribuir notas intermediárias, como por ex., 3,75 caso a face apresente 3 imperfeições ou 1,5 caso a face apresente 10 imperfeições, etc.
Quanto ao brilho do cunho
Nenhum brilho do cunho é observado. A superfície está completamente fosca ou opaca, com aparência desagradável.
Embora possa estar completamente escura ou fosca, a aparência deve ser agradável ao olhar. Ou possui coloração parcial, com outras partes mostrando o brilho do cunho.
Deve apresentar brilho de cunho quase completo, ou escurecimento homogêneo ou coloração leve e agradável ao olhar (especialmente moedas de cobre o bronze podem possuir uma coloração bela e encantadora).
Deve apresentar brilho original completo, ou completa, homogênea e levemente colorido, com aparência muito agradável.
Todo o brilho de cunho deve ser visível.
Quanto ao apelo visual
Moeda "feia", sem nenhuma atração estética.
Por mais que tenha várias características pouco atrativas, a moeda possui apelo visual mediano, sendo sobretudo, atraente.
Apelo visual deve ser acima da média e muito atraente.
Apelo visual deve ser excepcional à primeira vista, embora possa decair sensivelmente após um olhar mais apurado. Moedas com todo o brilho do cunho ou com coloração homogênea caem nesta categoria.
Apelo visual excepcional, completamente estonteante. Uma moeda com esta característica manter-se-á extremamente atraente independentemente do quanto olhares para ela em busca de defeitos. Nesta categoria estão inclusas algumas peças com as mais belas pátinas vistas, como a pátina arco-íris em moedas de prata, ou a pátina "madeira" em moedas de cobre.
Se lestes todo o material até aqui, estás apto a realizar alguns testes práticos. Vamos fazer um teste aqui a título de ilustração.
Um teste prático
Vamos utilizar para o teste a moeda de 40 réis 1907 da minha coleção.
Faremos uma análise rápida dos 4 tópicos discutidos acima, atribuindo os valores a eles. Utilizamos uma lupa com ampliação de 7x seguindo a recomendação da ANA.
Superfície (Anverso): possui 3 bagmarks somente visíveis sob ampliação de 7x. Conferindo com as definições acima, temos 3,75.
Superfície (Reverso): possui 1 bagmarks visível a olho nu e 3 visíveis sob ampliação: 3,25;
Cunho (Anverso): o cunho possui apenas um defeito visível sob ampliação no centro do escudo, entre as estrelas do Cruzeiro do Sul, onde apresenta cunho gasto: 3,75.
Cunho (Reverso): Não apresenta falhas evidentes. No entanto, as pérolas que circulam o valor não estão completamente definidas. Portanto: 4,0.
Brilho (Anverso): Completamente colorido de forma quase homogênea: 3,5.
Brilho (Reverso): a coloração é menos homogênea que no anverso, mas cobre toda a superfície: 3,0.
Apelo visual (Anverso): apelo visual excepcional, muito atraente: 4,0.
Apelo visual (Reverso): apelo visual excepcional, embora com uma mancha mais escura na região focal. Ainda assim, muito atraente: 3,0.
Vamos agora colocar na nossa tabela da equação e verificar o resultado:
Preservação da superfície (1 a 5) X 2 | PSa | 7,5 | PSr | 6,5 |
---|---|---|---|---|
Qualidade do cunho (1 a 5) | GCa | 3,75 | GCr | 4,0 |
Brilho do cunho (1 a 5) | BCa | 3,5 | BCr | 3,0 |
Apelo visual (1 a 5) | AVa | 4,0 | AVr | 3,5 |
Total parcial | TPa | 18,75 | TPr | 17,0 |
Circulação comum | N = 0,6 x 18,75 + 0,4 x 17 = | 18,05 |
Como é moeda de circulação comum, utilizamos a relação 0,6/0,4 para anverso/reverso. O resultado final é, portanto, 18,05 que na comparação com a tabela de equivalência acima, implica um Estado de Conservação MS63 para esta moeda.
Da utilização de sinais de soma para sinalizar estados de conservação maiores
Por vezes vemos moedas em que o estado de conservação vem acompanhado de um sinal de soma (+) para sinalizar um estado superior ao grau atribuído (SOB+, MBC+), com alguns exemplos (que beiram o absurdo, do meu ponto de vista) utilizando vários sinais de soma numa tentativa de indicar que é mais que de fato é, como por exemplo SOB++++; MBC++++.
A ANA aboliu a utilização destes sinais. Portanto, na escala Sheldon não são utilizados na graduação de EC.
O que é comum entre as certificadoras profissionais é a utilização de uma estrela (somente 1 unidade) ao lado do estado de conservação, simbolizando que a moeda é graduada rigidamente dentro das características a ela atribuídas, mas possui um aspecto visual superior, de uma escala maior. Nestes casos, que não são muitos, usa-se uma estrela (por exemplo, MS64★).
Digrama para classificação de moedas não circuladas
Para quem preferir um modelo que seja mais facilitado, indo direto ao ponto, sem necessariamente utilizar o Método Travers, pode fazer uso do diagrama abaixo.
Ele foi composto utilizando as definições mais recentes com relação ao estado de conservação publicadas pela ANA, bem como as definições utilizadas pelas certificadoras oficiais (veja lista de referências ao final do artigo).
A intenção é conseguir determinar o estado de conservação da sua moeda não circulada de maneira facilitada.
IMPORTANTE: O diagrama foi feito seguindo rigidamente as definições da ANA. Mas a graduação de estado de conservação continua sendo uma questão de opinião, muito embora a escala Sheldon diminua consideravelmente a subjetividade do processo.
Além disso, a atribuição de estado de conservação exige muito estudo, de forma que não deves contentar-se apenas com um diagrama deste tipo.
Estude o máximo possível para que estejas em condições de discordar das atribuições nele expostas. Opiniões e críticas, quando feitas com argumentos decentes, são sempre bem vindas.
Agora, discordar somente por discordar, sem nenhuma argumentação baseada no estudo, não tem validade alguma.
Clique aqui para fazer download do PDF com o diagrama acima.
Bons estudos!
Referências
Artigo originalmente publicado no blog Ilha Coleções em 27/02/2017.
[2] The Official American Numismatic Association Grading Standards for United States Coins, 7ª Edição, Editado por Kenneth Bressett, Narrativa de Q. David Bowers. Editora Whitman.
[4] General Grading Standards for U.S. Coins
[5] The Sheldon Coin Grading Scale
[6] Guide to Coin Collecting: Coin grades
[7] Walter Eigner: Coin Grading Guide
[8] U.S. Coin Auction: US Coin Photo Grade Coin Grading Guide