Uma coleção garimpada: a coleção de minerais de Pércio de Moraes Branco
A paixão de Pércio de Moraes Branco pelas pedras começou ainda na infância, quando descobriu a perfeição das formas cristalinas, esculpidas pela natureza. Mas o hobby de colecionar minerais teve início nos primeiros dias da Faculdade de Geologia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em 1967.
Hoje, o passatempo se confunde com a própria profissão. Por sua experiência como colecionador, Pércio foi convidado, em 1994, a organizar o Museu de Geologia da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, do qual fora coordenador.
Em sua coleção estão reunidas e catalogadas mais de mil minerais, entre eles muitas pedras preciosas:
"Descarto a classificação semipreciosa, em se tratando de gemas. Essa distinção preciosa/semipreciosa é confusa e sem fundamento científico ou econômico. Para mim, todas são preciosas. Apenas algumas são mais caras que as outras".
Além de caras, algumas pedras de seu acervo são muito raras, como uma vanadinita, de tom amarronzado brilhante, procedente do Marrocos. Ou uma aragonita em forma de verme, encontrada nos Estados Unidos.
Outras pedras também assumem curiosas formas, como uma ágata que lembra um útero com as trompas. E há curiosidades com a calcantita, mineral chileno cujo sabor deixa um gosto amargo na boca, ou um cardume de quatro peixes fossilizados em uma placa de calcário, com 100 milhões de anos, proveniente da Chapada do Araripe-CE.
Há minerais que não se destacam pela beleza, mas pela raridade, como a lulzaquita, espécie que só se tornou conhecida em 2000 e que ele obteve dois anos depois, e a hialita, uma opala incolor.
Sua coleção já foi bem maior. Mas, sem espaço para guardá-la adequadamente, Pércio decidiu vender 1.350 pelas para o Museu de Ciências Naturais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em 2001.
"Todos os itens estavam catalogados, mas era difícil encontrá-los ou apreciá-las como mereciam".
Daquela época, restaram poucas peças, a maioria de valor sentimental como um heliodoro, pedra preciosa que tem o mesmo nome de seu pai.
Mas como as pedras fazem parte da vida desse geólogo, não demorou muito para que o armário de sua coleção ficasse cheio novamente. E hoje a coleção é formada por centenas de tipos de pedras como ametista, quartzo rosa, cristal-de-rocha, citrino e ágata, entre tantas outras de diferentes cores e formatos.
Aliás, ele explica que a cor das pedras muitas vezes é definida por um elemento químico que entra como impureza no mineral. O roxo da ametista, por exemplo, tem origem no ferro, como o amarelo do citrino.
O quartzo rosa contém manganês ou agulhas de rutilo, um mineral de titânio. E o vermelho do cobiçado rubi ou o verde da valiosa esmeralda tem origem no cromo.
Para quem além da paixão por minerais possui o conhecimento científico, o poder místico das pedras é visto com cautela.
Elas possuem uma energia, isso sim. Mas dizer que uma pedra é 'boa' para o amor, para relaxar ou para atrair dinheiro, não posso afirmar, pois não as estudei nesse aspecto. Por outro lado, será leviandade de minha parte condenar essas crenças, pois a história da ciência está cheia de fatos ditos fantasiosos e que o futuro mostrou serem verdadeiros.
Autor de cinco livros sobre geologia, um deles é um dicionário contendo todos os minerais conhecidos; outros dois são levantamentos dos locais onde existem pedras preciosas e minerais para coleção no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, publicados pela CPRM; e mais dois livros de pesquisa histórica.
Por isso, não surpreende saber que sua coleção tem uma pequena seção diferente, com pedras que lhe dão o que são importantes pelo valor histórico, não mineralógico: uma delas veio do Coliseu (Roma), outra do Monte Fuji (Japão), além de um pedaço do Muro de Berlim.
Fonte:
Artigo originalmente publicado na Revistra Retrô.