Moedas no velho testamento e do tempo de Jesus

Nesse estudo bíblico numismático apresentamos as moedas no velho testamento bem como as moedas do tempo de Jesus Cristo. Esclarecemos a relação da moeda nesses tempos bíblicos e abordaremos ainda as unidades de medida de valores dos primeiros livros do pentateuco, que os patriarcas tiveram contato, bem como as que Jesus teve contato e que usou em suas parábolas.

É um artigo muito profundo, cheio de significados e carga histórica, recomendado para quem quer se aprofundar no mundo da numismática bíblica.

São apresentadas referências bíblicas e opiniões do autor sempre com ênfase numismática.

Se seu interesse é o estudo numismático ou o entendimento bíblico, este artigo irá guiá-lo em uma viagem super interessante pelo tempo, a mais de 2 anos atrás.

As moedas do antigo testamento

Nos livros mais antigos da Bíblia, nenhuma moeda é mencionada. Então, como as transações comerciais eram pagas? Com artigos ou elementos diversos, principalmente de ouro e prata, que eram calculados de acordo com seu peso.

O primeiro personagem bíblico que é mencionado fazendo uma compra e pagar por ela foi Abraão, no dia em que sua esposa Sara faleceu. De acordo com Gênesis 23:14-16, Abraão comprou uma parcela de terra para enterrá-la e pagou pela terra à Efrom, o heteu, 400 siclos de prata.

14. Respondeu-lhe Efrom:
15. Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata, que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta.
16. Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a prata, de que este lhe falara diante dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda corrente entre os mercadores.
Gênesis 23:14-16

Alguns dos pesos usados como moedas no tempo do antigo testamento foram:

1. O siclo

O siclo (em hebraico "shékel", do verbo shakál = pesar, pagar) era uma unidade de peso, e equivalia a cerca de 12 gramas. Então, pela terra, Abraão pagou 4 quilos e 800 gramas de prata.

Pedras antigas chamadas sequel (shekels) ou siclo, da idade do ferro III (séculos IX a VII a.C.) e do período Herodiano (século I e II d.C), utilizadas pelos hebreus para medidas: 1 libra: 116,53 g (sem inscrição), 3/10 de libra: 83,4 g (com inscrição), 8 shekel: 91,35 g (com inscrição), 4 Shekel: 43,3 g (com inscrição), 2 Shekel: 22,7 g (com inscrição), 1 shekel: 11,0 g (com inscrição), 1 Nezef (5/6 Shekel): 9,4 g (2 peças, cada uma com inscrição), 1 Pim (2/3 Shekel): 8,4 g (com inscrição), 1 Beka (1/2 Shekel): 5,4 g (2 peças, uma com inscrição e outra sem), 8 Gerah: 4,3 g (com inscrição), 7 Gerah: 4,1g (com inscrição), 6 Gerah: 3,0 g (com inscrição), 5 Gerah: 2,9 g (com inscrição), 3 Gerah: 2,0 g (com a inscrição)

2. A mina

Outra medida de peso antiga mencionada na Bíblia é a mina, que equivalia a 60 siclos e, portanto, pesava cerca de 720 gramas.

Assim, por exemplo, quando os judeus retornaram do exílio de Babilônia (cativos de Nabucodonosor), um grupo de repatriados doou 5.000 minas de prata, ou seja, 3.600 quilos de prata para reconstruir o Templo.

Os chefes de famílias deram para o tesouro da obra 20.000 dracmas de ouro (aproximadamente 144 quilos de ouro) e 2.200 libras de prata (aproximadamente 1.254 quilos de prata) (ver Neemias 7:71), o que demonstra o quanto os judeus foram enriquecidos em seu cativeiro na Babilônia.

71. E alguns mais dos chefes dos pais contribuíram para o tesouro da obra, em ouro, vinte mil dracmas, e em prata, duas mil e duzentas libras.
Neemias 7:71

4. O talento

Uma terceira medida de peso foi o talento, equivalente a 60 minas, ou 43 quilos.

Na Bíblia, o rei Ezequias de Jerusalém, quando da invasão dos assírios, teve que pagar ao rei Senaquerib 300 talentos de prata e 30 talentos de ouro (ver II Reis 18:14), isto é, 12.900 quilos de prata e 1.290 quilos de ouro.

14. Então Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro.
II Reis 18:14

Esse método de pagar as compras ou indenizações de guerra com metais ou outros itens não eram fáceis, porque uma vez que as vendas eram feitas, era difícil carregar os pesados pagamentos.

Moeda: uma invenção redonda

Durante séculos, a humanidade comprou, vendeu e negociou sem dinheiro. Como eles faziam? Através do sistema de troca, ou seja, mudar uma mercadoria para outra. Mas era uma operação desconfortável, e às vezes difícil de finalizar, porque três condições eram necessárias para troca:

  1. Um teria que querer o bem ou objeto do outro;
  2. O outro também teria que querer o bem ou objeto do primeiro; e
  3. Os bens ou objetos negociados teriam que ter o mesmo valor.

Para superar essas desvantagens, aos poucos as pessoas concordaram em atribuir valor a certos objetos, que trocavam para aqueles objetos que precisavam.

Estes bens eram muito variados ao longo dos séculos: tabaco, cerveja, óleo, vinho, sal, sementes de cacau, até mesmo mulheres; mas entre todos esses bens, os metais prevaleceram, devido a facilidade de transporte, de sua simples conservação e de dividi-los sem dificuldades.

No século VII a.C., o inconveniente da "troca" de objetos foi superada graças à invenção da moeda. De fato, um rei chamado Giges, de Lydia (agora Turquia), teve a formidável ideia de derreter o metal em pedaços pequenos, e fundi-los com o mesmo peso e o mesmo cunho.

Como seu reino era muito rico e com muitas minas de ouro, seus metalúrgicos transformaram o metal em discos e em torno do ano 680 a.C., nasceram as primeiras moedas da história, na cidade de Sardes, capital do reino de Lydia.

Eles eram de um metal chamado "elétron" (mistura natural de ouro e prata) e tinham o rosto de um leão cunhado somente de um lado (anverso).

O sucesso da moeda foi sem precedentes e cem anos depois, em torno de 550 aC, outro rei de Lydia chamado Creso emitiu uma nova moeda, o Estáter (Figura 1), a primeira no mundo a ter um selo real no reverso. Era de ouro puro, e tinha de um lado um leão rugindo e, do outro lado, a marca do rei.

Figura 1: moeda Estáter do reino da Lydia

No ano 546 a.C. os persas invadiram o reino de Lydia e encontraram as moedas. Isso os motivou a fabricá-las.

O primeiro rei persa que as cunhou foi Dario I "o Grande", em torno de 510 a.C., e ele os chamou Dárico (Figura 2) em homenagem ao seu nome.

Eles eram de ouro, pesavam 7 gramas e tinham de um lado a figura do rei com um arco (anverso) e, do outro lado, o selo real (reverso).

Darío impôs seu sistema monetário em todo o império e, como a Palestina pertencia ao império persa (do 589 a.C.), essas moedas foram as primeiras que circulavam naquele território.

Figura 2: moeda da Pérsia Dárico

Assim, a primeira moeda mencionada na Bíblia é o "Dárico". Aparece no livro das Crônicas, quando o Rei Davi recebe dos israelitas, como uma doação para o Templo, 10 mil dáricos (1 Crônicas 29,7), mas este era um anacronismo, porque na época do rei Davi (século X a.C.) não existia o dárico, nem mesmo inventou a moeda, mas como para o autor do Livro das Crônicas, que escreveu há cerca do ano 300 a.C., é a única moeda que ele conhece naquele momento, ele menciona isso na passagem bíblica.

As moedas do período inter testamentário

Em 332 a.C., os gregos invadiram a Palestina e, a partir dessa data, as moedas gregas começaram a circular. A base desse sistema monetário foi:

1. A dracma

A dracma (Δραχμή) de prata, moeda equivalente a 6 óbulos, com peso aproximado de 4,3 gramas.

Figura 3-a: Dracma de Alexandre III (O Grande), cunhada por Lampsakos (336-323 a.C.). Moeda de prata de 4,23 g e 17,00 mm. Imagem cortesia da Romae Aeternae Numismatics.

2. O didracma

A didracma (Δίδραχμον), moeda a 2 dracmas, pesava aproximadamente 8,6 gramas.

Figura 3: Didracma de Tiro de 332 a 275 a.C.

3. O estáter

O estáter ou tretrobol (Τετρώβολον) tinha um valor equivalente a 3 dracmas. O estáter cunhado em na cidade de Corinto tinha em torno de 8,6 gramas e equivalia a 3 moedas de dracmas de 2,9 gramas, mas frequentemente era relacionado a dracma de prata de Athenas, pesando 8,6 gramas.

O estáter foi cunhado em várias cidades-estados gregas como Egina, Aspendo, Delfos, Cnossos, Cidônia, Jônia, Lampsacus, Megalópolis, Metaponto, Olímpia, Festo, Pesto, Siracusa, Tasos, Tebas e outras.

Figura 4: Estáter de Aspendos de 330 a 280 a.C.

4. O óbolo

Correspondia a 1/6 de dracma e pesava de 0,69 a 0,72 gramas.

Óbulo de Prata (8 mm 0,69 g) cunhada em Ática, Atenas por volta de 454-404 a.C.

5. O calco

A moeda de menor valor, equivalente a 1/8 óbulos.

As moedas dos evangelhos

Em 63 a.C., a Palestina foi conquistada por Roma e, por esse motivo, as moedas romanas começaram a circular como moeda oficial da região naquela época que antecedeu os evangelhos.

Jesus conhecia muito bem as moedas de seu tempo, e também seus valores. Exemplos disso podem ser encontrados nos Evangelhos que nos dizem que ele sabia o quanto era o salário de um trabalhador (Mateus 20:2-14), o preço de um quarto em uma pousada (Lucas 10:35), a punição da prisão por dívidas (Mateus 5:25-26), o valor dos impostos (Lucas 20:24) ou o pagamento da tarifa ao Templo (Mateus 17:27).

Ele mesmo conhecia a instituição bancária, como pode ser visto em uma de suas parábolas em que ele censurava um servo por não ter colocado o dinheiro em um banco e depois retirou-o com interesse (Mateus 25:27).

27. Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.
Mateus 25:27

Mas é oportuno nos perguntar: Quais são as moedas que Jesus conheceu? Abaixo estão as 7 moedas que circularam no período que antecedeu o evangelhos:

1. O denário

O denário era a principal moeda romana na época.

Figura 5: Denário de Tibério

2. O sestércio

O sestércio equivalia a 1/4 de um denário.

Figura 6: Sestércio de Tibério

3. O dupôndio

O dupôndio equivalia a 1/8 de um denário.

Figura 7: Dupôndio de Tibério

4. O as

O as equivalia era equivalente a 1/16 de um denário.

Figura 8: Ás de Tibério

5. O semis

O semis valia 1/32 de um denário;

Figura 9: Semis de Tibério (como César)

6. O quadrante

O quadrante equivalia a 1/64 de um denário.

Figura 10: Cuadrante / Quadrante de Cláudio

7. o lépton

O lépton, também conhecido como branco era a menor moeda da época e equivalia  a 1/128 de um denário.

Figura 11: Lépton de Pôncio Pilatos

Moedas próprias de governantes do tempo bíblico

Finalmente, alguns governantes judeus também emitiram moedas. O primeiro a fazer isso foi João Hircano I (Yohanan Hyrcanus, 175 a.C. a 104 a.C., reinado de 135-104 a.C.), em torno de 110 a.C. (Figura 12).

Logo depois também o fez seu sucessor, Alexandre Janeu (Alexander Jané / Yannai, 125 a.C. a 79 a.C., reinado de 103 a.C. a 76 a.C.). Ele escreveu sobre as moedas a legenda "Rei Jonatas", que foi o primeiro monarca da história de Israel cujo nome apareceu em uma moeda (Figura 13).

Figura 12: Lépton de Juan Hircano I
Figura 13: Lépton de Alexandre Janeu

Ou seja, no tempo de Jesus circularam na Palestina principalmente três tipos de moedas:

  1. As romanas (imperiais);
  2. As gregas (provinciais); e
  3. As judias (locais, moedas de conta, cunhadas em Cesareia).

De todos elas, o Novo Testamento menciona apenas sete, dos quais três são gregas (a dracma, a didracma e o estáter) e quatro romanas (o Denário, o Ás, o Quadrante e o Lépton ou branco).

Moedas das parábolas e dia-a-dia de Jesus

Uma moeda na boca de um peixe

Três moedas gregas aparecem apenas moderadamente nos Evangelhos, a dracma, a didracma e o estáter.

A dracma aparece apenas na parábola da mulher que teve 10 dracmas e perde uma (Lucas 15:8-10). Não era difícil perder uma moeda naquela época, porque em uma casa de camponeses, eram escuras, sem janelas e com um piso térreo irregular.

Se uma moeda caísse no chão, não era fácil encontrá-la. Por esta razão, a mulher na parábola teve que "acender uma lâmpada, varrer a casa, procurar com cuidado", para encontrá-la (v.8).

Além disso, 10 dracmas eram o que uma jovem usava como ornamento em seu véu de noiva no dia do seu casamento. As jovens mulheres juntavam-nas por anos para reuni-las no dia do casamento e, quando se casavam, guardavam-nas como um símbolo do matrimônio, da mesma forma que hoje fazemos com a aliança de casamento.

Talvez fosse uma dessas moedas que a mulher perdeu. Isso explica seu desespero por encontrá-la.

8. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?
9. E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.
10. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
Lucas 15:8-10

Além disso, a didracma e o estáter são mencionados apenas uma vez, no mesmo episódio: quando as autoridades religiosas pedem a Pedro se Jesus pagou o imposto ao templo, que era de um didracma (Mateus 17:24-27). Talvez suspeitassem que o Mestre se recusasse a fazê-lo, mas Pedro respondeu que sim.

E quando Pedro chegou em sua casa para buscar o dinheiro e pagar por Jesus, ele se antecipou e perguntou: "Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra o imposto ou tributo? dos seus filhos, ou dos alheios?" Pedro respondeu: "dos alheios".

Jesus então disse a ele: "logo, são isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter (que valia 2 didracmas); toma-o, e dá-lho por mim e por ti."

24. Tendo eles chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas e perguntaram: Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?
25. Sim, respondeu ele. Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?
26. Respondendo Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos.
27. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.
— Mateus 17:24-27

A cada um, um denário

Das moedas romanas, a que é mencionada com mais frequência nos evangelhos é o denário. Parece na parábola dos trabalhadores da vinha, que conta como um homem contratou um grupo de trabalhadores para trabalhar em seu campo, e concordou em pagar a cada um um denário (Mateus 20:1-16).

1. Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha.
3. Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados
4. e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram.
5. Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma,
6. e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo?
7. Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha.
8. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros.
9. Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário.
— Mateus 20:1-9

Mas, no momento do pagamento, os primeiros contratados reivindicavam mais salários, aos quais o dono da vinha se recusava beneficiar mais que os últimos, mostrando-nos que para Deus tudo que é feito com amor tem o mesmo valor.

10. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um.
11. Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa,
12. dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia.
13. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário?
14. Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti.
15. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?
16. Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos [porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos].
Mateus 20:10-16

Graças a esta parábola, sabemos que o denário era o salário de um dia de trabalho de um trabalhador.

Também aparece na primeira multiplicação dos pães, quando Jesus pede aos seus discípulos que alimentem as pessoas e respondem que precisam de cerca de 200 denários para alimentar os 5.000 homens com suas esposas e filhos (Marcos 6:37; João 6:7).

37. Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?
Marcos 6:37
7. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço.
João 6:7

O denário é mencionado novamente na parábola dos dois devedores, no qual um devia 500 denários e os outros 50, e ambos são perdoados pelo credor (Lucas 7:41).

41. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta.
Lucas 7:41

Também aparece na parábola do Bom Samaritano, onde ele paga ao proprietário da pousada 2 denários para o estalajadeiro cuidar dos feridos (Lucas 10:35).

35. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.
Lucas 10:35

Alguns pensam que 2 denários, naquela época, poderiam ter servido para pagar um mês de acomodação, comida e cuidado de uma pessoa.

Se assim for, os 2 denários não são um detalhe simples na história, mas uma chave para a leitura: mostra até que ponto o amor e a compaixão do bom Samaritano vieram do estranho que encontrou deitado na estrada para Jericó.

César e sua moeda

O denário também é a moeda que os fariseus mostraram a Jesus, quando eles montaram uma armadilha, perguntando-lhe se era justo ou não pagar o imposto a Roma (Marcos 12:13-15).

Denário de Tibério / Tiberius (14-37 d.C.), moeda de prata de 19mm pesando de 3,68 a 3,75g.

O denário tinha de um lado a imagem do Imperador Tiberius (anverso), com a inscrição "Tiberius César Augusto, filho do divino Augusto", e, no outro lado (reverso), a figura da Deusa Paz sentada.

Quando eles mostraram o denário, Jesus perguntou à eles: "De quem é a imagem e a inscrição?" Eles responderam: "De César". Ele então disse sua famosa frase: "Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

13. E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
14. Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar?
15. Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja.
16. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César.
17. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.
Marcos 12:13-15

Finalmente, pouco antes de sua paixão, durante um jantar em Betânia, uma mulher derramou alabastro, um perfume muito caro na época, na cabeça de Jesus, e os presentes a criticaram dizendo que poderiam ter vendido por 300 denários e dar o dinheiro aos pobres (Marcos 14:5).

5. Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela.
Marcos 14:5

Vamos analisar essa passagem: se com 200 denários era possível alimentar 5.000 homens, o valor desse perfume era suficiente para pagar um jantar para 7.500 pessoas! Essa mulher deu isso a Jesus porque era a coisa mais valiosa que ela tinha.

Os pássaros do mercado

A segunda moeda romana mencionada é o As. Era equivalente a 1/16 parte do denário.

Só aparece em um sermão de Jesus, quando ele ensina seus discípulos a confiar na providência, e ele lhes diz: "Não se vendem dois pardais por um asse (as)? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai." (Mateus 10:29).

O evangelho de Lucas transmite esta frase de uma maneira diferente: "Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus." (Lucas 12:6).

Ou seja, o preço era de dois pássaros para um as, mas se o comprador pagasse dois asses, ao invés de quatro pássaros, ele levaria cinco pássaros, ou seja, uma promoção onde o quinto era um presente.

Isso expressa quão grande é o amor de Deus, que cuida até mesmo do pequeno pássaro livre, aquele que vai como um presente, aquele que, de acordo com as contas humanas, não tem nenhum valor!

A terceira moeda romana chamada é o quadrante. Valia 1/64 parte do denário e é citado no sermão da montanha, quando Jesus diz: "Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último quadrante."(Mateus 5:26-27).

É um conselho muito prático: recomenda evitar grandes problemas, resolvendo-os quando ainda são pequenos. Às vezes, por não ter resolvido a tempo, tivemos que pagar um preço alto (o último quadrante).

A última moeda é o Lépton (do adjetivo neutro grego λεπτόν / "letón": "pequeno") ou branco, neutro, a mais insignificante das moedas romanas: equivalia a 1/128 parte do denário.

Aparece na cena da viúva pobre, que deu oferta no Templo, colocou no gazofilácio dois leptos (ou leptas: plural) (Marcos 12:42 e Lucas 21:2), valor equivalente a 1 quadrante.

42. Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.
Marcos 12:42
Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas;
Lucas 21:2

Ninguém além de Jesus havia notado, e ele disse a seus discípulos: "Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento.". A moeda menos importante (para homens) tornou-se, para Jesus, a moeda mais valiosa de todos.

Transportada por um exército

Finalmente, haviam duas moedas dos tempos de Jesus que, apesar de não serem cunhadas e que realmente não existiam, foram usadas simbolicamente para indicar grandes quantidades de dinheiro.

Um era o talento, uma palavra que fazia alusão à antiga medida de peso. Foi usado para indicar 6.000 denários. (Mais ou menos como quando dizemos "1 tonelada" para referir a 1.000 quilos").

Veja na tabela abaixo os pesos do talento em cada país.

País Peso
1 talento grego (ático) 26 kg
1 talento romano 32,3 kg
1 talento egípcio 27 kg
1 talento babilônico (leve) 30,3 kg
1 talento babilônico (pesado) 60,6 kg
1 talento do Novo Testamento 58,9 kg

O talento aparece duas vezes nos evangelhos. O primeiro, na parábola do senhor que perdoa seu servo 10.000 talentos, e então o servo perdoado não quer perdoar uma dívida de 100 denários seu conservo (Mateus 18,23-35).

O centro da parábola é a comparação entre ambas as moedas. Os 10.000 talentos (cerca de 60 milhões de denários), era uma soma incrível, nunca visto por qualquer judeu (os judeus chamavam o talento de kikkar). O montante era superior ao orçamento de toda a província da Judeia.

Por outro lado, a dívida do conservo, 100 denários, era insignificante: quinhentos denários.

Para comparar ambas as dívidas, os 100 denários caberiam no bolso do conservo. Por outro lado, os 10.000 talentos teriam de ser transportados por cerca de 8.600 pessoas, cada uma com um saco de moedas pesando em torno de 30 quilos (talento romano), o que, enfileirando cada pessoa a uma distância de um metro de distância, teria formado uma fila de mais de 8 quilômetros.

O contraste entre ambas as dívidas é esmagador. Com o qual Jesus ensinou que, se Deus perdoou nossa dívida, maior que que os 10.000 talentos, nós também devemos perdoar nossos irmãos.

23. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
24. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga.
26. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei.
27. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida.
28. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves.
29. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei.
30. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida.
31. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera.
32. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste;
33. não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?
34. E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.
35. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.
Mateus 18:23-35

A segunda menção é a parábola dos talentos (Mateus 25, 14-30), em que um proprietário antes de viajar dá a um de seus servos 5 talentos, a outro 2 e a outro, de acordo com sua capacidade.

É desta parábola que deriva a palavra atual "talento", que já não significa "moeda" (no sentido de peso do valor), mas a "capacidade ou aptidão para fazer algo", haja vista que foi interpretado que esses talentos deixados pelo dono simbolizam as diversas capacidades dadas por Deus aos homens.

A outra "moeda" usada para expressar grandes quantidades era a mina. Era equivalente a 100 dracmas, e só aparece na versão de Lucas da parábola dos talentos (Lucas 19:13-25).

Como os leitores de Mateus eram de um nível social bastante próspero e bem-sucedido, ele não teve problemas para mencionar o talento como uma quantidade exorbitante. Mas, como Lucas escreve para leitores bastante pobres, ele preferiu trocar a moeda pela mina, uma quantidade mais modesta e de mais fácil comparação.

13. Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.
Lucas 19:13

Resumo final

Conforme descrito acima, vemos claramente que as referências das diferentes moedas relacionadas em inúmeras passagens bíblicas são principalmente as interessantes, ilustrativas e precisas parábolas que Jesus declarou nos anos de sua pregação e peregrinação aos muitos povos da antiga Palestina, demonstrando que nosso Salvador conhecia perfeitamente as moedas circulantes, seus valores e poder de compra de cada uma delas.

Comparativo de pesos, moedas, valores e metais

Antigo testamento

Unidade de peso Tipos de moedas Equivalência Peso / Metal
Siclo (Shekel de Tiro) Unidade de peso 2 becas 3,85 gramas de prata
Mina Unidade de peso 50 ciclos
1 libra de prata
550 gramas de prata
Talento Unidade de peso 3.000 ciclos 33/34 quilos de prata
- Gera 1/20 siclos 0,55 grama de prata
- Dracma 1 siclo 2,85 gramas de prata
- Beca 10 geras 5,50 gramas de prata
- Pim 2/3 siclos 7 gramas de prata
- LIbra de prata 50 siclos
1 mina
550 gramas de prata

Novo testamento

Unidade de peso Tipos de moedas Equivalência Peso / Metal
Siclo Unidade de peso 4 Denários
4 Dracmas
14,4 gramas de prata
Mina Unidade de peso 60 ciclos
240 Denários
720 gramas de prata
Talento Unidade de peso 6.000 denários
6.000 Dracmas
30 minas
21,6 quilos de prata
60 minas - 3.600 siclos
1 talento
43,2 quilos de prata
- Lépton (Branco / Neutro) 1/128 denário
1/8 Asarión
1/2 Quadrante
0,078 grama de prata
- Quadrante 1/4 Asarión
2 Léptons
0,156 gramas de prata
- Asarión 4 Quadrantes 0,624 gramas de prata
- Quarto 1/16 Denário 2,5 gramas de prata
- Dracma 1 Denário 3,6 gramas de prata
- Denário 10 Asarión
40 Quadrantes
~4 gramas de prata
- Libra - 327,5 gramas de prata
- Libra de prata - 360 gramas de prata

Sistemas monetários da bíblia

Sistema monetário do antigo testamento

Como já vimos, o "shekel" e o "talento", não são moedas, mas pedaços de prata para representar quantidades de moedas circulantes.

Nas terras bíblicas, não foram encontradas moedas cunhadas antes de 700 aC.

É difícil determinar o valor exato de ouro e prata em vista da flutuação do poder de compra em diferentes períodos, com exceção da dracma persa, as moedas diferiram em peso e variaram de valor.

Haviam de moedas leves a moedas pesadas; as leves eram metade do valor das pesadas, embora fossem designados pelo mesmo nome.

Confira abaixo os pesos e medidas do antigo testamento:

Pesos hebreus Equivalente hebreu Equivalente métrico Outro equivalente Referências
Talento 60 minas
3000 ciclos
34 quilos 75 libras Êxodo 38:25-26
2 Reis 18:14
Mateus 25:15-28
Talento comum
Talento real
- 45-68 quilos 100 a 150 libras -
Siclo 2 Becas Gênesis 23:15
Siclo comum 11,5 gramas 0,4 onças
Siclo real 23 gramas 0,8 onças
Pesos romanos Equivalente hebreu Equivalente métrico Outro equivalente Referências
Libra 30 siclos 327,45 gramas 12 onças João 12:3

Sistema monetário do novo testamento

Nos tempos do Novo Testamento, circulavam não apenas moedas romanas, mas também moedas gregas, sírias e egípcias, que em alguns casos tinham imitações locais de valores variados.

Existem grandes diferenças nas estimativas do valor desse dinheiro em moeda corrente, e a variação depende do que constitui a base desse valor: ouro, prata ou poder de compra. Além disso, o valor monetário dos metais preciosos varia constantemente.

A moeda mais comum era o denário romano, uma moeda de prata que representava o salário diário comum de um trabalhador (Mateus 18:28, 20:2-13, 22:19, Marcos 6:37, 12:1, 14:5, Lucas 7:41; 10:35, 20:24; João 6:7, 12:5, Apocalipse 6:6).

O equivalente grego era a dracma, mencionada apenas em Lucas 15:8. Alguns dracmas localmente cunhados tiveram menor valor.

As "duas dracmas" de Mateus 17:24 provavelmente foram cunhadas localmente e eram usadas para pagar o imposto do templo.

As "peças de prata" referidas em Mateus 26:15, 27:3-9, provavelmente eram tetradracmas, ou seja, uma moeda equivalente a quatro dracmas e correspondente ao siclo do Antigo Testamento (Zacarias 11:12-13).

Mas as moedas de prata que em Atos 19:19 são chamados de "peças de prata" provavelmente eram dracmas gregos.

O estáter ou estátero, era uma moeda de prata equivalente a quatro dracmas gregos ou um siclo, é mencionado no Mateus 17:27. Era o montante exato do imposto para duas pessoas, ou seja, o pagamento de Cristo e Pedro.

As moedas de ouro, não mencionadas na Bíblia, pesavam metade de um recipiente de prata. O áureo romano, uma moeda de ouro, não é mencionado na novo testamento, exceto indiretamente como "ouro" em Mateus 10:9. Muitas outras moedas foram cunhadas em cobre ou bronze.

Uma moeda chamada "cobre" (grego: chalkos) em Mateus 10:9 e "dinheiro" no Marcos 6:8, provavelmente era uma pequena moeda grega ou romana de pouco valor, aproximadamente 1/32 de denário, ou seja, o pagamento de quinze minutos de trabalho de um jornaleiro.

Um quadrante (Mateus 5:26; Sr. 12:42) não valia praticamente nada e era cerca de metade do valor de "cobre". Quatro quadrantes fizeram um quarto (grego: assario) (Mateus 10:29; Lucas 2:16), aproximadamente 1/16 de um denário.

O branco (grego: lépton), a moeda menos valiosa (Marcos 12:42), era meio quadrante e valia cerca de 1/128 de denário.

As somas de dinheiro foram indicadas por "minas" (grego: mna), que correspondiam a 100 denários e por "talentos", que totalizavam 6.000 denários.

Nome da moeda Nome grego Valor Descrição
Denário Denarion Salário diário de um jornaleiro Moeda romana (Mateus 18:28, 20:2-13
Dracma Drachme 1 denário Equivalente grego do denário (Lucas 15:8)
2 dracmas Didrachma Salário de 2 dias de trabalho Moeda local na Palestina, usada para
o imposto do templo (Mateus 17:24)
Estáter Stater 4 dracmas gregas Imposto do templo para 2 pessoas
Moeda de prata (Mateus 17:27)
Ouro Chusos - Áureo romano. Moeda de ouro
(Mateus 10:9)
Cobre / Dinheiro Chalkos 1/32 denario Moeda grega ou romana de cobre
ou bronze (Mateus 10:9, Marcos 6:8, 12:41)
Quadrante Kodrantes 1/64 denario Moeda romana de cobre
(Mateus 5:26, Marcos 12:42)
Quarto Assarion 4 quadrantes
1/16 denario
Meda romana de cobre
(Mateus 10:29, Lucas 12:6)
Branco Lépton 1/2 quadrante
1/28 denário
Moeda de cobre ou bronze.
A moeda de menor valor
(Marcos 12:42, Lucas 19:13)
Talento Talenton 6.000 denários de prata
180.000 denários de ouro
Unidade monetária grega
(Mateus 18:24, Mateus 25:15-28)

Fonte:
Artigo original de Cr. Mario E. Demarchi, publicado em espanhol pelo Centro Filatélico y Numismático San Francisco.

Traduzido e adaptado para o português por Plínio Pierry.