Moedas comemorativas à Independência do Brasil

No presente ano de 2022 o Brasil comemora seus 200 anos de emancipação política, quando foi fundado o Império do Brasil. Este evento vem sendo retratado desde então em várias moedas comemorativas da numária brasileira.

Este artigo apresenta brevemente uma relação destas moedas por ordem cronológica.

6400 réis (1822) – A Peça da Coroação

6400 réis de 1822 - Peça da Coroação de D. Pedro I

Dentre as primeiras providências do imperador D. Pedro I. estavam a criação das Armas Imperiais e a cunhagem de moedas de 6400 réis que deveriam ser ofertadas às autoridades presentes na cerimônia da coroação de Dom Pedro I. Pode-se afirmar então que esta foi a primeira moeda comemorativa da Independência do Brasil.

Ao todo foram cunhadas apenas 64 peças, sendo posteriormente a sua cunhagem cancelada, não chegando a circular. Existem várias versões para o motivo do cancelamento da moeda.

Uma das versões afirma que foi a ausência da palavra CONSTITUTIONALIS na composição da legenda, sendo que em outras moedas posteriores tal palavra é utilizada.

Outra razão possível seria o fato de o imperador ter sido representado com o busto nu, laureado ao estilo romano, sendo que o mesmo preferia ser representado com uniforme militar e o peito com medalhas.

Dentre as sessenta e quatro moedas cunhadas, apenas umas poucas que se tem conhecimento existem atualmente, estando em museus ou coleções particulares. Acredita-se tratar-se de 16 exemplares.

Informações técnicas da Peça da Coroação

Característica Especificação
Ano 1822
Valor 6.400 Réis (moeda sem discriminação do valor)
Metal Ouro (916,7‰)
Peso 14,34 gramas
Emissão 64 exemplares (16 conhecidos)
Diâmetro 30,20 mm
Espessura 1,25 mm
Reverso Medalha
Bordo Serrilhado
Cunhagem Casa da Moeda do Rio de Janeiro

Anverso da peça da coroação

Efígie do imperador D. Pedro I de busto nu, de perfil, voltado à esquerda e laureada. Na orla consta a legenda PETRUS. I.D.G. BRASILIAE. IMPERATOR (Pedro Primeiro pela Graça de Deus Imperador do Brasil).

No exergo vê-se a era 1822 e a letra monetária R indicando a Casa da Moeda do Rio de Janeiro como sendo o local de cunhagem. Próximo ao busto, na parte inferior, consta a assinatura do gravador “Z.Ferrez” (Zeferino Ferrez).

Reverso da peça da coroação

O reverso da moeda tem como gravador Tomé Joaquim da Silva Veiga e apresenta ao centro as armas imperiais brasileiras, tendo acima a coroa real.

Ao centro do escudo vê-se a esfera armilar rodeada pelo dístico IN HOC SIG VIN (abreviação de IN HOC SIGNO VINCES, “com este sinal vencerás”). Ao lado do escudo há dois ramos floridos e com frutos, sendo um de café e outro de fumo, unidos pelo Laço Nacional.

Valor da peça da coroação

Devido à sua importância histórica e alto grau de raridade, a Peça da Coroação (como é conhecida) tornou-se a moeda mais valiosa e desejada entre os colecionadores de moedas brasileiras. Algumas delas chegaram a ser arrematadas em leilões por valores expressivos, conforme tabela abaixo:

Valores de exemplares arrematados em casas de leilões

Ano Leiloeira Valor EC
1986 Spink US$ 87.000,00 SOB
1997 Spink US$ 82.500,00 MBC
2005 Spink US$ 69.000,00 MBC
2012 Heritage US$ 138.000,00 MBC
2014 Heritage US$ 499.375,00 SOB

500, 1000 e 2000 réis (1922) – Centenário da Independência do Brasil

Da esquerda para a direita: Reversos das moedas de 500, 1000 e 2000 réis de 1822 - Comemorativas ao 1º Centenário da Independência do Brasil

No ano do centenário da independência, o então presidente Epitácio Pessoa decretou a cunhagem de três moedas comemorativas ao evento, nos valores de 500, 1000 e 2000 réis, sendo as duas primeiras de cobre-alumínio e a última de prata.

Em todas elas, aparecem os bustos do primeiro imperador do Brasil D. Pedro I. juntamente como busto do presidente Epitácio Pessoa.

O fato de um presidente mandar representar a si mesmo em moedas ou cédulas é raro em democracias republicanas.

Informações técnicas das moedas do 1º centenário

Característica 500 réis 1000 réis 200 réis
Ano 1922 1922 1922
Metal Cobre-alumínio Cobre-alumínio Prata (500‰ ou 900‰)
Peso 4,00 gramas 8,00 gramas 8,00 gramas
Emissão 13.744.000 16.698.000 1.559.570
Diâmetro 22,50 mm 26,70 mm 26,00 mm
Espessura 1,50 mm 2,20 mm 1,80/1,90 mm
Reverso Moeda Moeda Moeda
Bordo Serrilhado Serrilhado Serrilhado
Cunhagem Casa da Moeda do
Rio de Janeiro
Casa da Moeda do
Rio de Janeiro
Casa da Moeda do
Rio de Janeiro
Circulação Comum Comum Comum

Anverso das moedas de 500, 1000 e 2000 réis de 1922

Da esquerda para a direita: Anversos das moedas de 500, 1000 e 2000 réis de 1822 - Comemorativas ao 1º Centenário da Independência do Brasil

Os anversos das três moedas é semelhante, com apenas uma pequena variação: No exergo das moedas de 500 e 1000 réis a palavra BRASIL aparece em linha reta, enquanto na moeda de 2000 réis a palavra BRASIL está em linha curva. Os outros elementos a seguir aparecem nas três moedas:

Ao centro vê-se os bustos de perfil do imperador Dom Pedro I. e do presidente Epitácio Pessoa, próximos, de perfil, voltados à esquerda.

Ao lado do busto do imperador consta o seu nome D. PEDRO I. e ao lado do busto do presidente o nome EPITÁCIO PESSOA. Na orla lê-se o dístico ACCLAM. DA INDEPENDENCIA X PRESID. DA REPÚBLICA. Também na orla, acima dos bustos, o Cruzeiro do Sul.

Reverso das moedas de 500, 1000 e 2000 réis de 1922

500 e 1000 réis: Os reversos das moedas de 500 e 1000 réis é semelhante: Ao centro há uma tocha acesa cruzada por dois galhos em forma de X. Do lado esquerdo da tocha vê-se a coroa imperial, e, à direita, o barrete frígio.

Abaixo da coroa o ano 1822 e abaixo do barrete o ano 1922, indicando o centenário da independência.

Acima da tocha aparece o valor (500 ou 1000 réis conforme a moeda). Na orla, na parte superior o dístico 7 DE SETEMBRO e na parte inferior 1º CENTENARIO DA INDEPENDÊNCIA

2000 réis: Já o reverso da moeda de 2000 réis é bem diferente das demais: Um pergaminho cobrindo quase todo o campo. No centro do pergaminho, à esquerda, as armas do Império e, à direita, o brasão da República.

Na parte inferior do pergaminho, as datas 1822-1922. Acima do pergaminho tem-se o dístico 1º CENTENARIO DA INDEPENDÊNCIA. No exergo as palavras 2 MIL RÉIS.

Curiosidade: O erro “BBASIL”

Moeda de 500 réis de 1822 (Erro BBASIL)

Na primeira emissão das moedas de 500 e 1000 réis, o gravador Augusto Giorgio Girardet cometeu um erro e cunhou moedas com a palavra "BBASIL" ao invés de "BRASIL". Estas moedas são bastante procuradas por colecionadores, sendo a de 500 réis mais rara e, portanto, mais valiosa.

1, 20 e 300 cruzeiros (1972) – Sesquicentenário da Independência do Brasil

Da esqerda para a direita: Reversos das moedas de 1, 20 e 300 cruzeiros de 1792 - Comemorativas aos 150 anos da Independência do Brasil

No ano de 1972 o regime militar utilizou as comemorações do Sesquicentenário da Independência (150 anos) como meio de popularização.

Repetindo o ato de Epitácio Pessoa, o então presidente General Emílio Garrastazu Médici mandou cunhar a sua própria efígie nas moedas comemorativas dos cento e cinquenta anos da independência do Brasil.

Foram ao todo 3 moedas: 1, 20 e 300 cruzeiros. Apenas a de 1 cruzeiro foi concebida para circulação comum.

Informações técnicas das moedas do sesquicentenário

Característica 1 Cruzeiro 20 Cruzeiros 300 Cruzeiros
Ano 1972 1972 1972
Metal Níquel Prata 900‰ Ouro 920‰
Peso 10,08 gramas 18,04 gramas 16,65 gramas
Emissão 19.999.800 502.000 50.000
Diâmetro 29,00 mm 34,10 mm 27,50 mm
Espessura 1,70 mm 2,10 mm 1,80 mm
Reverso Moeda Moeda Moeda
Bordo Com inscrição:
"SESQUICENTENÁRIO DA
INDEPENDÊNCIA"
Com inscrição
"SESQUICENTENÁRIO DA
INDEPENDÊNCIA"
Com inscrição:
"SESQUICENTENÁRIO DA
INDEPENDÊNCIA"
Cunhagem Casa da Moeda do Rio de Janeiro Casa da Moeda da França Casa da Moeda da França
Circulação Comum Moeda Proof, para colecionador. Moeda Proof, para colecionador.

As três moedas têm praticamente os mesmos elementos, sendo eles:

Anverso das moedas do sesquicentenário da independência

Da esqerda para a direita: Anversos das moedas de 1, 20 e 300 cruzeiros de 1792 - Comemorativas aos 150 anos da Independência do Brasil

Em cima, à direita, as cabeças do imperador D. Pedro I. e do presidente Emílio Garrastazu Médici. À esquerda, na vertical, o nome BRASIL. No exergo as datas 1822 e 1972.

Reverso das moedas do sesquicentenário da independência

Ao centro, abrangendo mais a parte superior, o mapa do Brasil com rotas partindo de Brasília, representando a integração nacional. No exergo a discriminação do valor, conforme a moeda (1 cruzeiro, 20 cruzeiros ou 300 cruzeiros).

Novas moedas comemorativas do plano real (2022) – Bicentenário da Independência do Brasil

Serão lançadas em 2022 duas moedas comemorativas ao Bicentenário da Independência. A homenagem faz parte das celebrações coordenadas pela Comissão Interministerial Brasil 200 Anos.

De acordo com o Banco Central, serão lançadas duas moedas comemorativas, sendo uma de prata e outra de cuproníquel. Até a data de publicação deste artigo, não se tem mais notícias a respeito das moedas.

O lançamento está previsto para março de 2022.

Serão de circulação comum ou apenas para colecionadores?

O Banco Central não passou ainda nenhuma informação a respeito, mas podemos fazer algumas deduções e suposições.

A moeda comemorativa de prata, devido a nobreza de seu metal, será com certeza apenas para colecionadores. Podemos deduzir isto também pelo fato de a última moeda de prata de circulação comum do Brasil ter sido a de 5000 réis dos anos 1936, 1937 e 1938, com busto de Santos Dumont em seu reverso.

A moeda de cuproníquel também será provavelmente para colecionadores. Este metal foi usado pela última vez em moedas de circulação comum nas moedas de 50 centavos de real nos anos de 1998, 2000 e 2001, além do núcleo das moedas de 1 real de 1998 e 1999.

Este metal deixou de ser utilizado nestas moedas devido o alto custo de produção das mesmas, embora no caso das moedas de 1 real havia também a alpaca que compunha o anel externo e que também era fator que elevava os custos de produção.

Porém, podemos supor uma possibilidade, embora mínima, de que as moedas de cuproníquel comemorativas ao bicentenário da independência poderiam ser moedas de circulação comum, com valor facial de 2 reais.

Isso seria possível devido ao custo de produção e à baixa durabilidade das cédulas de 2 reais atualmente. De acordo com o site do Banco Central, com informações atualizadas em novembro de 2021, as cédulas de 2 reais custam aproximadamente 24 centavos para serem produzidas e duram em média apenas 14 meses.

Tal fato justificaria a produção de novas moedas de 2 reais que, apesar de terem um custo mais elevado, teriam uma duração de vários anos. Só para efeito de comparação, o custo de produção das moedas de 1 real atualmente está em aproximadamente 26 centavos.

Sendo assim, essa suposta nova moeda de 2 reais seria de cuproníquel apenas neste ano de 2022 por ser uma moeda especial, comemorativa. Nos anos posteriores ela poderia ser produzida de aço, como acontece com as demais do plano real.

Contudo, reconhecemos que a maior probabilidade seja mesmo de que ambas as moedas sejam apenas para colecionadores.

Artigos complementares

Caso queira ler mais sobre o assunto, com uma análise mais técnica, recomendamos a leitura do artigo abaixo escrito por Bruno Diniz.

Moedas do 1º Centenário da Independência do Brasil
Neste artigo, falaremos sobre o contexto histórico das moedas do Primeiro Centenário da Independência, suas características, variantes, detalhes numismáticos e as pessoas envolvidas na sua concepção e autorização para circulação.

Prêmio Literário Florisvaldo dos Santos Trigueiros

Este artigo foi indicado na 1ª edição do Prêmio Literário Florisvaldo dos Santos Trigueiros na categoria de melhor publicação numismática de 2022 em 19/05/2023.

Referências

Gonçalves, Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil – 2. ed. rev. ampl. e atualizada – Rio de Janeiro: Casa da Moeda do Brasil, 1989.

Torelli, Renato; Cintra, André. Histórias que o dinheiro conta. São Paulo: Lumus Editira, 2006.

Banco Central do Brasil - Custo de produção de moedas, acessado em 10/02/2022;

Wikipedia - Peça da Coroação, acessado em 09/02/2022;

Moedas do Brasil, acessado em 09/02/2022;