Moeda 25 Centavos 1995 "NULA"
O presente artigo "Moeda 25 Centavos 1995 NULA" foi originalmente publicado em 11/03/2017 e atualizado em 20/06/2017 no blog Caderno Numismático pelo próprio autor Rubens Bulad, republicado abaixo ipsi litteris em seu nome mediante sua autorização prévia.
O artigo também foi publicado no boletim nº 93 (JAN/JUN de 2019) da AFNB (Associação Filatélica e Numismática de Brasília) nas páginas 18 a 22.
Trata-se de uma moeda de 25 Centavos, sempre com data 1995, e um carimbo, contramarca ou punção circular com a inscrição "NULA" no anverso e no reverso, cobrindo todo o design da moeda.
Este tipo de peça é praticamente desconhecido nos meios numismáticos nacionais e não sabemos de nenhuma publicação à respeito.
Primeiro, vou falar sobre o que ocorre no exterior:
Este tipo de anulação ocorre nas Casas da Moeda de alguns países, tal como na U.S. Mint dos Estados Unidos, quando as moedas são liberadas da máquina de cunhagem e são reprovadas pelo controle de qualidade, por conter algum erro ou defeito de fabricação que a torna inadequada para circulação e que a possa tornar valiosa no mercado numismático, ou que está sendo recolhida (retirada de circulação).
O objetivo de anular desta forma a peça, é de reutilizar o material, fundindo-o novamente na siderúrgica e assim o reciclando.
Nos Estados Unidos, as peças anuladas ou canceladas são transportadas através de rolos de esmagamento, que obliteram o design da moeda e transmitem um padrão ondulado à peça, o qual os numismatas e as Sociedades Numismáticas locais passaram a denominar oficialmente como "Cancelamento Waffle" (WAFFLED COINS).
Recebem esse nome devido ao aspecto final ficar muito parecido com a iguaria culinária. O mesmo processo tem sido utilizado pela Espanha, África do Sul, Malásia, Holanda, Bélgica, Alemanha e muitos outros países, há muitos anos.
Moedas destruídas desta maneira possuem vários nomes: Desmonetizadas, Descunhadas, Canceladas, Anuladas, etc.
Os padrões deixados pelos rolos de esmagamento podem ou não se assemelhar a "waffles". Seguem alguns exemplos:
É o tipo de peça que não deveria sair das Casas da Moeda, e ir direto pra siderúrgica, mas… Sempre algumas escapam, e no mercado numismático dos Estados Unidos, este tipo de peça é encontrado com pouca dificuldade e geralmente comercializado por cerca de US$ 60 para Cents, Nickel, Dime e Quarters, e US$ 120 para Half e Dollar. Para moedas comemorativas em Prata, o valor alcança os US$ 500.
Em outros países:
E no Brasil?
As Casas da Moeda estrangeiras, especialmente a dos Estados Unidos, explicam com detalhes às Sociedades Numismáticas (e a quem interessar possa), detalhes de como é realizado o procedimento de cancelamento de moedas que serão refundidas na siderúrgica.
Já a Casa da Moeda do Brasil ou o Banco Central do Brasil simplesmente tratam QUALQUER aspecto da cunhagem de moedas ou impressão de cédulas com um secretismo absurdo, já que o processo não difere em praticamente nada do adotado em outros países e simplesmente ignoram mensagens enviadas à respeito.
Em alguns textos de decretos-lei, encontrei a frase ''Ao Banco Central do Brasil incumbirá dar cursos aos procedimentos de recolhimento e descaracterização das moedas divisionárias.''.
Além do mais, temos no Regimento Interno do Banco Central, no seu Artigo 67:
São atribuições dos Chefes-Adjuntos do Mecir, nas respectivas áreas de atuação
(…)
II - autorizar:
b) o expurgo do estoque de cédulas e moedas metálicas sem poder liberatório, cujo prazo de resgate tenha se esgotado;
(…)
d) a destruição de cédulas e moedas falsas e a descaracterização das moedas metálicas impróprias para circulação e das sem poder liberatório;
(…)
Sabemos que as cédulas são picotadas, pois a própria Casa da Moeda entrega (ou vende?) aos visitantes um saquinho com as mesmas.
No entanto não temos a devida informação de COMO é feita essa descaracterização nas moedas.
Então fica no ar a dúvida: Seria esta punção com a inscrição "NULA" a forma com a qual o Banco Central ou a Casa da Moeda do Brasil anulam as nossas moedas para serem recicladas nas siderúrgicas?
Sem uma confirmação OFICIAL de um destes órgãos, ou o testemunho com fotos ou vídeos de algum funcionário da siderúrgica, não teremos como saber com certeza.
Em uma busca na internet, encontramos 1 peça pertencente a numismata de São Paulo, e outras 4 peças à venda, por valores com média de R$ 80 cada. É um valor equiparável, em termos de poder econômico, ao que são vendidas as Waffles Coins americanas.
Um fato estranho é que somente encontramos exemplares deste cancelamento na moeda "25 Centavos 1995" e em nenhuma outra.
Não encontramos na peça com data 1994 (que possui tiragem muito maior e mais suscetível a erros de cunhagem), e também não encontramos naquela que foi efetivamente recolhida e desmonetizada, a peça "1 Real 1994", que foi definitivamente retirada de circulação em 2003.
Será que algum dia teremos respostas a isto?
As peças examinadas não possuem defeitos de fabricação aparentes. Logo, o motivo para receberem o cancelamento, é o fato das moedas da Primeira Família do Plano Real estarem sendo recolhidas aos poucos, desde que foi lançada a Segunda Família. São 19 anos de recolhimento, portanto.
Vamos tentar agir com cautela, já que pode ser facilmente fabricado fora do ambiente de cunhagem da Casa da Moeda, por alguém com muito tempo livre disponível, maus pensamentos, e um simples torno de oficina.
O estilo da punção me parece algo muito amador, muito tosco pra ter sido feito na CMB, embora não precise necessariamente ter alguma qualidade, já que o objetivo é apenas anular as moedas para serem enviadas à reciclagem.
Atualizarei esta postagem quando houverem mais informações.
Atualização em 20 de março de 2017
Através do "Fale Conosco" do site do Banco Central do Brasil, enviamos em 7 Março 2017 a seguinte solicitação registrada sob o número de Protocolo 2017088752:
O qual reproduzo o texto:
Boa tarde. Meu nome é Rubens Bulad, sou numismata (colecionador de moedas) e membro da ANS - American Numismatic Society, dos Estados Unidos. De acordo com o Regimento Interno do Banco Central, artigo 67, letra "d":
d) a destruição de cédulas e moedas falsas e a descaracterização das moedas metálicas impróprias para circulação e das sem poder liberatório;
Gostaria de obter a seguinte informação: Sabemos que a descaracterização das cédulas é feita mediante picotagem das mesmas. No entanto, gostaria de saber como é feita a descaracterização das moedas metálicas, e se a imagem que lhes envio em anexo corresponde a este processo de descaracterização.
Agradeço antecipadamente,
Rubens Bulad
(em anexo, as imagens anverso e reverso da peça «25 Centavos 1995 com punção "nula"»
Recebemos hoje, 20 Março 2017, via e-mail, a seguinte resposta do Banco Central:
A descaracterização de moedas metálicas é efetuada na Casa da Moeda, por um processo de prensagem que as deforma, tornando-as impróprias para o uso.
Anexa imagem de exemplos de moedas após esse processo.
As imagens enviadas por V. Sa. não correspondem ao processo utilizado pelo Banco Central.
Atenciosamente,
Banco Central do Brasil
Anexo, em um arquivo .pdf, contendo nenhum texto, e 2 imagens das nossas "Waffle Coins":
Isto resolve toda a questão.
Em primeiro lugar: A peça "25 Centavos 1995 NULA" possui essa punção aplicada por particulares. Não sabemos com qual intuito, se para algum uso, tal como algum tipo de ficha, ou para enganar colecionadores. Mas, com esta resposta do Banco Central, temos a certeza: Não é coisa oficial, e não possui absolutamente NENHUM valor numismático, tratando-se tão somente de MERO VANDALISMO, portanto.
Em segundo lugar: Agora sabemos que também temos as nossas "Waffle Coins" e pela primeira vez temos imagens das mesmas.
É assim que se faz numismática!
Fonte:
Originalmente publicado em 11/03/2017 no blog Caderno Numismático pelo próprio autor Rubens Bulad.
O artigo também foi publicado no boletim nº 93 (JAN/JUN de 2019) da AFNB (Associação Filatélica e Numismática de Brasília) nas páginas 18 a 22.